As campanhas eleitorais voltaram às ruas depois de meio século, quando os comícios nas praças foram substituídos pelos sofás das salas de televisão do Horário Eleitoral Gratuito e, mais recentemente, pelas telinhas dos celulares insuflados pelos tais influenciadores digitais. As grandes massas que se concentraram no Sete de Setembro, apoiando um e outro dos principais candidatos, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, expressavam aquele tipo de manifestação. Volta a era dos comícios.
Para quem esperava um golpe de estado, foi um balde de água fria. Os tanques e metralhadoras ficaram escondidos no Palácio da Alvorada, na cerimônia íntima da comemoração do Dia da Pátria. Desse ato cívico se viram apenas os voos rasantes da Esquadrilha da Fumaça, visível na Esplanada dos Ministérios e na Torre de Tevê do Eixo Monumental, onde se concentravam as multidões pró e contra o governo. Em São Paulo e demais capitais nem isto pode ser apreciado.
O grande alvo dos protestos, do lado da direita, foi o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que, nos últimos tempos, vem protagonizando a cena política com atos efetivos de poder, mandando prender e arrebentar (como dizia o ex-presidente João Baptista Figueiredo). Moraes é, atualmente, figura mais poderosa do País, no sentido de “real power” concebido pelo sábio florentino Nicolau Maquiavel: “Tem poder quem solta e quem prende”. O magistrado enquadrou com as varas da Justiça os demais poderes na pena de sua caneta.
Fora alguns incidentes aqui e ali, como a tentativa dos caminhoneiros e romeiros de Mato Grosso de invadir a Esplanada, em Brasília, as manifestações tiveram o caráter de mobilização de forças eleitorais, o que deve se intensificar nos próximos meses.
A campanha política volta às ruas. Saem os marqueteiros da tevê e entram os estilistas de camisetas. Já ficaram para trás as campanhas violentas do passado longínquo, quando adversários se matavam a tiros e facadas, como registram tantos livros da literatura, destacando-se o romance Vila dos Confins, de Mário Palmeiro. Ou cortavam-se lenços dos adversários, como era comum no Rio Grande do Sul, nos tempos de maragatos (lenço vermelho) e chimangos (lenços brancos). Embora se reclamem do palavrório duro ou de ameaças virtuais, os tempos mudaram e tudo isto fica só da boca para fora. Quem não acreditar que provoque o ministro Alexandre.