Os incautos brasileiros, que pagam os seus impostos em dia, se acostumaram, ao longo dos anos e das décadas, a não crer no que os prelados dos Três Poderes lhes dizem. Não chega a ser, propriamente, um fenômeno de falta de credibilidade.
A tropa dos fanáticos de Jair Bolsonaro simplesmente não presta mais atenção no que pinta na tela da Globo, ouve, certa de que lhe estão mentindo, driblando ou proferindo eventos que depois não calham, ou acontecem de forma distante. Da mesma forma, há muito tempo desistiu de ligar para as explicações dadas pela oposição para justificar por que isso ou aquilo aconteceu.
Os desdentados de Bolsonaro não acreditam nas denúncias que pipocam na CPI da Pandemia. Não acreditam que as medidas adotadas pelo governo federal– ou a falta delas – estariam agravando ainda mais a situação da pandemia do coronavírus no país.
O vazio nos corredores na capital norte-americana
A crise no Brasil ainda não passou a ser assunto prioritário na atual administração da Casa Branca, mas virou pesadelo para diversos cientistas políticos (leiam-se Brazilianists) e organização de pesquisa de políticas públicas – ou “think tanks” – que criam presença e promove ideias libertárias em debates políticos.
Há um grande vazio e desespero e nas correntes de pensamentos e análises da América Latina em Washington (DC). Há quatro anos, Alfred Charles Stepan morria de câncer, aos 81 anos. Um dos cientistas políticos mais influentes de sua geração, Stepan nasceu em “uma família muito católica” de sete pessoas em Chicago em 22 de julho de 1936.
Um excelente boxeador em sua juventude; oficial da ativa do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos que passou a crise dos mísseis de 1962 no mar, a trinta quilômetros da costa cubana, pronto para invadir a ilha; oficial da Marinha no Vietnã; correspondente especial do The Economist que previu o golpe militar brasileiro de março de 1964; nativo de Chicago convidado pelos políticos profissionais da cidade a assumir a cadeira de um congressista democrata que se aposentava (com sugestões de uma abertura no Senado por vir); professor que teve uma reunião de seis horas com Fidel Castro em Havana (e uma caixa de charutos cubanos do líder revolucionário); titular de prestigiosas cátedras e decanatos em Yale, Columbia e Oxford; primeiro presidente e reitor da Universidade da Europa Central em Budapeste; Presidente do Conselho da Richard Tucker Music Foundation – o perfil dele soa como uma combinação plausível para um galã de folhetim de Janete Clair.
Stepan, mais conhecido por suas contribuições ao estudo comparativo da política, principalmente o papel dos militares na democracia brasileira, fez todas essas coisas e muito mais. Ninguém entendia mais de Brasil do que ele. “Não sei como todos os meus artigos e trabalhos vão parar nas mãos dos dirigentes da CIA”, reclamava Stephan.
Há correntes na capital norte-americana que acreditam na possibilidade da família Bolsonaro e amigos se perpetuarem nos Três Poderes. A Rede Globo não controla mais o futuro e o destino do país. Stephan, por outro lado, não rejeitava a ideia de que os militares retornariam ao poder no Brasil. Ele não digeria com o Partidos dos Trabalhadores (PT) deixou a oposição minar a sua própria base política.
A fragilidade da democracia brasileira não assustava o respeitado “brazilianist”. Stephan pregava que o democratismo precisa ser construído, com erros e acertos. Segundo ele, os eleitores fazem muito bem em pensar e votar assim, pois apesar da firme crença em contrário dos governos e políticos de todos os segmentos, não são idiotas.
Estamos vivendo uma nova onda nos meios de comunicação. O PT e os grandes veículos de comunicação do Brasil – por ingenuidade ou incompetência – ainda não se adaptaram aos novos ventos. No Brasil de hoje, é preciso ver para crer – e tanto mais respeito obterá junto à opinião pública quem apresentar-lhe fatos e realizações acabadas.
O fantasma da intervenção militar no Brasil ronda os principais endereços da capital brasileira. Em vez de tentar embrulhar o eleitor com falsas promessas e conversa fiada, os líderes das pesquisas, Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, precisam apresentar uma proposta de transição de governo, um projeto de reconstrução nacional. Se isso não acontecer, o candidato da terceira via deve decolar (Por que não Ciro Gomes?) ou os brasileiros viverão outro 31 de março – com a benção e patrocínio da Casa Branca.