Brasil leva racismo na brincadeira, um problema que pode virar tragédia 

O protesto contra o racismo nas manifestações de rua em varias cidades do Brasil - Foto Orlando Brito

Os brancos já são minoria no Brasil. Os setores mais esclarecidos de nossa população,  dotados de formação humanística e cultural que os incluem nos grupos de pessoas  civilizadas, indicam a naturalidade com que diferentes raças humanas podem ter uma convivência pacífica, harmoniosa  e produtiva em nosso país. Como tem acontecido, até certo ponto, na atualidade. Mas não sem problemas sérios e de violência, verificados recentemente. Com o agravamento da ocorrência de atritos, provocações, criminalidade  e mortes. A ponto de o racismo ser hoje uma realidade crescente e em fase de agravamento no país.

Há racismo sim, explícito e direto, há violência, preconceito, perseguição e surgimento de grupos de provocadores que promovem ataques aos negros, pardos, mulatos, toda a miscigenação existente entre nós. Um bando de malfeitores, em muitos casos ligados a grupos radicais de brancos, amarelos ou transparentes que vivem da criminalidade  e estimulam o preconceito. Entre esses grupos, os mais violentos idolatram o nazismo e são adeptos da pretensa supremacia racial branca. O Brasil é uma das maiores democracias  raciais do mundo mas nas últimas décadas o segregacionismo dos brancos  contra os negros tem crescido.

A maioria dos negros e pardos daqui, sem ser-lhes dadas reais oportunidades de estudo, trabalho  e saúde, permanecem  em situação de pobreza e miséria, sem que disponham de oportunidades de ascensão social. A maioria dos negros, de todos os matizes, não dispõem de escolas públicas, alimentação sadia, e são vistos e tratados geralmente, pela polícia, como infratores. Só por causa da cor da pele. Tiros a ermo se sucedem nas favelas, disparados por policiais e membros das milícias, matando jovens, crianças, mulheres. Em alguns casos, as vítimas se encontravam dentro de suas casas. Quase todas as vítimas são negras.

A chocante cena da morte de George Floyd

As autoridades brasileiras, em geral, acompanham a questão racial com pouca seriedade. O Presidente, que já teve uma gripezinha bem forte, agora ficou daltônico  para não ver a cor dos cidadãos. E assim, para ele, está resolvido o problema. O racismo entre nós tende a se agravar. As estatísticas  indicam tal caminho. Os racistóides brasileiros também matam  mulheres  de cor. Em 2018, segundo  pesquisa do IPEA, 68% das 4.519 mulheres  assassinadas no Brasil eram negras. Todas as pesquisas apontam resultados semelhantes.

O recente assassinato do negro João Alberto Silveira num  supermercado gaúcho marca o início  de outra fase: agora os negros, pardos, mulatos, os atacados, resolveram reagir. Começaram pintando  as  vias públicas em grandes  cidades com mensagens exigindo respeito. Tal como aconteceu nos Estados  Unidos, depois do assassinato do negro George Floyd, asfixiado até a morte por  policiais.

Cena da morte de João Alberto no Carrefour, em Porto Alegre

Em vez de tergiversar ou fazer piadinha boba, como o presidente, o governo devia começar  a se preocupar. Pode vir uma onda de violência à qual não  estamos acostumados. E ainda estimular um sentimento de vingança. Os negros, pardos, mulatos etc. são mais numerosos do que os brancos, amarelos, transparentes, desbotados, o que seja. Caso eles se organizem para ações de força, a situação pode ficar complicada. Quando os negros americanos foram perdendo a paciência em relação às violências sofridas, organizaram grupos de pressão sob a denominação de Black Power, e ainda criaram o partido político dos Panteras Negras. Atuaram por duas décadas e foram desativados.

Não há nenhuma justificava  para perseguir os negros e julgá-los inferiores. O maior canalha e  assassino da história da humanidade foi um branco de bigode ridículo chamado Hitler. Que levou mais de 70 milhões  de pessoas à morte numa guerra mundial. O racismo é um dos maiores crimes da humanidade e precisa um basta rigoroso e permanente. A raça negra, antes escravizada, se desenvolve com dificuldades por enfrentar a pobreza quase  total, e a discriminação  de certos grupos. Mas continua avançando, apesar dos sofrimentos. Quem não percebe esta realidade não é daltônico. Apenas, alheio, não quer enxergar.

Registro do IBGE do ano passado indica que os negros (e etc.) representam 53,6% da população brasileira, e os brancos (e etc.) são 45,5%. As estatísticas do assassinato de negros são muito superiores  às dos brancos:  entre 2007 e 2017 a taxa de negros  assassinados  aumentou 33.1%, e a dos brancos apenas 3.1%, segundo levantamento do IPEA. Os números comprovam uma diferença considerável e revela que o governo precisa atuar rapidamente para superar esta realidade perigosa. Caso contrário poderá ser o caminho para uma tragédia no Brasil.

— Fonseca Filho é jornalista

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