Agora sim, vai ficar completo o esquema para a consolidação do estilo faroeste americano entre nós, ou o jeito spaghetti western italiano, que matava muito mais. Graças ao empenho do presidente Zero Zero, pai de Zero Um, Zero Dois, Zero Três e Zero Quatro – todos bons de pistola – que liberou o pagamento do imposto de importação sobre revólveres e pistolas. Com isso o Brasil deixa de ganhar receita e pode perder milhares de filhos a serem atingidos pelos tiroteios e assassinatos que vão decorrer do novo investimento. Não vai faltar revólver para acertar alguém e será instrumento de trabalho dos bandidos. A intenção seria para que nossos irmãos se protegessem dos bandidos, trabalho que a polícia não consegue fazer.
Os defensores do liberou geral para as armas – depois virão as espingardas, metralhadoras e tanques compactos para atender o mercado de milícias – acham que a população carece de trabuco e munição, mais do que arroz e feijão. Assim como livros didáticos, laptops, smartpfhones, acesso à internet de que nossos jovens carentes tanto precisam mas não podem comprar, revólveres e pistolas, agora que não pagam mais tarifas, virão com um bruto manual de instruções. Para produzir mais, ou para eliminar mais. Com a economia a fazer livre dos impostos, os fabricantes de revólveres e pistolas desenvolverão pesquisas para a melhoria dos produtos.
Agora o governo pretende organizar cursinhos a qualquer cidadão – e cidadãs, que atualmente são mais assaltadas e assassinadas no paraíso em que vivemos do que os homens. Imaginemos elas com um pau-de-fogo – como dizem os índios – na bolsa. Os marmanjos assassinos vão correr, mas levarão pelo menos um tiro na perna. Os instrutores virão das forças militares. São competentes e um deles chegou a presidente da Pátria amada. Trata-se de uma política social discutível, porque obviamente haverá malfeitores que comprarão as armas mais baratas para matar e roubar, e não para se defender. E cada discussão ou briga poderá acabar em tiros, em vez de tapas. O seguro de vida sofrerá grande aumento nos próximos meses.
Supor que armas disponíveis proporcionam segurança à população não corresponde à realidade. Mais armas, mais violências, crimes, assaltos. A maioria dos países civilizados ou bem governados promovem campanhas de desarmamento entre sua população, de modo que, com menor existência de armas, o volume de assassinatos e crimes variados seja reduzido. Isso é óbvio para qualquer cidadão normal, mas existem os que se consideram além dos normais, e assim pensam de forma diversa. Com mais revólveres, pistolas, espingardas e outras armas disponíveis à população, para esses, haveria menos atritos.
Os que comungam tal pensamento seguem o padrão de vida dos Estados Unidos, onde as pessoas podem comprar qualquer arma numa loja especializada, sem precisar para isso de alguma autorização. Na grande potência mundial o mercado de armas é assim: comprou, pagou, montou, atirou. E, às vezes, matou. Na grande democracia americana, tudo seria permitido. E a história do país se desenvolveu com muitas armas. Na conquista do Oeste, na guerra de Secessão, nas gangues formadas em Nova Iorque e Chicago, na ligação com o crime organizado e no racismo exacerbado.
Daí resultou uma certa tragédia americana com assassinatos de homens extraordinários, para os quais a farta e livre aquisição e utilização de armas contribuiu. De lá à época atual permanece o medo sobre a sociedade americana. O racismo voltou a matar. A atmosfera criminosa e o abuso dos tiros favoreceu o assassinato de raras figuras humanas, como Abraham Lincoln, John Kennedy, Martin Luther King, Robert Kennedy, culminando com John Lennon, que trouxera luz, amor e poesia para combater a violência e as armas.
— José Fonseca Filho é Jornalista