Jair Bolsonaro está em campanha. Esquecendo a promessa eleitoral de acabar com a reeleição, o presidente está empenhado em falar a seu eleitorado mais fiel, hoje em torno de 30%, segundo pesquisas, e chegar à disputa de 2022 com essa base. Pode ser esse desejo que explique a assinatura de decretos em série sobre o porte e a posse de armas — sete no total — atropelando o debate na sociedade e no Congresso. Trata-se de um tema caro ao eleitor bolsonarista e uma de suas principais promessas na eleição de 2018.
O presidente sempre mostrou gosto em tratar da chamada agenda de costumes, deixando os temas mais duros aos auxiliares — como o “Posto Ipiranga” Paulo Guedes. Ao assumir a vontade de seguir no poder, parece confirmar essa tendência. Cuida do “circo” e deixa o “pão”, que anda em falta, aos profissionais.
O projeto Bolsonaro, até aqui, caminha bem. Conseguiu do Congresso, por unanimidade, um crédito de R$ 248,9 bilhões que permitirá fechar as contas do ano sem pedaladas e chegar a 2020 com relativo conforto. A reforma da Previdência ganhou vida própria no Congresso. Não renderá o R$ 1 trilhão pedido por Paulo Guedes, mas será suficiente para abrir um horizonte de decisões de investimento privado a partir do primeiro trimestre do próximo ano. E ainda poderá contar com receitas extras de privatizações e leilões do pré-sal.
Se tudo correr dessa forma, Bolsonaro chega às eleições municipais de 2020, o primeiro passo para 2022, como cabo eleitoral importante. O problema dos planos, porém, são os imprevistos — e os planos dos outros. Correndo na mesma raia, Bolsonaro já tem como principal adversário o governador paulista João Doria. E não deve descartar a concorrência futura do ex-juiz Sérgio Moro, mesmo que hoje ele esteja acuado pelos diálogos vazados pelo site “The Intercept” e dependa do presidente para ter algum espaço de poder. Já a oposição ainda não tem plano. Apega-se ao grito de guerra “Lula livre”, sem um discurso para substituir a narrativa antipetista.
E há o cenário externo, que sempre pode atrapalhar. O risco de uma crise do petróleo devido aos conflitos entre Estados Unidos e Irã tem potencial para causar um terremoto na economia mundial. Sem falar nos efeitos econômicos das rusgas entre Donald Trump e a China. Faltam três anos e meio para as eleições presidenciais, e em política nada é linear. Mas Bolsonaro, até aqui, parece contar com um ingrediente fundamental na política — sorte.