Ao identificar no celular do tenente-coronel Mauro Cid a minuta de um decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) com o objetivo de reverter o resultado das eleições, além de mensagens, áudios e documentos com intenções golpistas, a Polícia Federal coloca o ex-presidente Jair Bolsonaro em definitivo na cena do crime. E mais: deixa claro que um golpe de Estado estava sendo tramado dentro do próprio Palácio do Planalto.
Cada dia fica mais clara a intenção do ex-presidente em se perpetuar no poder, apesar de ter perdido a eleição. Não foi a primeira minuta golpista encontrada com assessores próximos a ele. Em janeiro, durante busca e apreensão na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, a PF encontrou um documento prevendo a instauração de estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com objetivo de reverter o resultado do pleito presidencial.
Não foi por acaso que os devotos bolsonaristas foram mantidos em vigília nas portas dos quartéis durante tanto tempo. Em meados de novembro do ano passado, ao encontrar apoiadores do então presidente no cercadinho do Alvorada, o general Braga Netto, candidato a vice na chapa encabeçada por Bolsonaro, pediu paciência aos manifestantes. “Não percam a fé, é só o que posso falar agora”, afirmou, deixando no ar que poderia haver uma virada, embora aquela altura Lula já tivesse sido diplomado.
A minuta do documento encontrada no celular de Mauro Cid talvez seja a prova que faltava para desmontar os argumentos de Bolsonaro de que não sabia de nada. O tenente-coronel não é só mais um entre as centenas de assessores presidenciais. O ajudante de ordem é simplesmente a pessoa mais próxima ao presidente da República.
Entre outras coisas, o ajudante de ordem tem acesso a informações pessoais sensíveis, inclusive ao celular do presidente, às correspondências e às bagagens levadas pelo chefe do Executivo no dia a dia. Não dá pra Bolsonaro jogar a culpa nas costas de Mauro Cid como fez com Anderson Torres.
No próximo dia 22 o TSE começa a julgar a primeira de oito ações que pedem a inelegibilidade de Bolsonaro. Será analisado pelos ministros se houve abuso de poder político e uso indevido da estrutura da Presidência para divulgar fake news sobre o sistema eleitoral. Trata-se da reunião com os embaixadores, na qual o ex-presidente pôs sob suspeição a confiabilidade das urnas eletrônicas.
Será que as minutas golpistas podem influenciar o julgamento?
A conferir.