A flexibilidade da legislação eleitoral brasileira permite aos partidos lançarem candidatos mil à Presidência da República sem prejudicar seu desempenho nas eleições para o Congresso, as Assembleias Legislativas e os governos estaduais.
O PMDB, que não tem candidato à Presidência desde 1998, continua sendo o maior partido na Câmara e no Senado, apesar da pulverização partidária. O PT, que elegeu os quatro últimos presidentes (2002/2006/2010/2014), nunca chegou perto de eleger a maior bancada do Senado nem conseguiu disparar como a maior bancada da Câmara. O PSDB, que elegeu o presidente em 1994 e 1998, nunca fez maioria no Senado nem dominou a Câmara, mesmo elegendo seu presidente em 2000.
Os tucanos e petistas, que elegeram todos os presidentes desde 1994, nunca tiveram a maioria dos governos estaduais. Antes da pulverização atual, o PMDB era quem elegia maior número de governadores. Isso ocorre porque as eleições são diferentes, embora ocorram ao mesmo tempo.
A distribuição do tempo de TV, por partidos e candidatos, é definido por critérios regionais. As coligações, à exceção de 1994, podem ser feitas nos estados com composições diferentes da nacional. Um partido pode apoiar, por exemplo, um candidato do PT para presidente e um do PSDB para governador.
Mas se as composições são este bumba meu boi, diferente não é o processo de formação das alianças políticas para governar. O PMDB perdeu com Quércia em 1994, mas no dia seguinte às eleições, uma ala do partido já indicava ministro para Fernando Henrique Cardoso. O PMDB perdeu com Serra, em 2002, mas do dia para a noite estava negociando seu ingresso no governo Lula.
O caso mais exemplar talvez seja o da presidente Dilma. Ela se elegeu com o apoio do PP, do PR, do PRB, do PMDB, do PTB e do PSD. Mas a maioria parlamentar deixou o governo e votou pelo impeachment. Mas não ficaram apenas nisso. Todos eles escalaram ministros para o governo Temer. E agora conversam sobre uma aliança política para o Planalto em 2018.
Para governar o Brasil, desde sempre, nunca foi preciso uma coligação orgânica pré-eleitoral, sempre bastou uma composição pós-eleitoral. E nunca faltou patriotismo aos nossos líderes e partidos políticos para apoiar os governos que se instalam. Foi assim com Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Temer.
Esta realidade de política brasileira explica porque os partidos não perdem nada lançando candidatos à Presidência. Seu desempenho para os governos estaduais, Assembleias Legislativas, Senado e Câmara dos Deputados dependem de outras variáveis. Um candidato a presidente não puxa ninguém para baixo. Dilma ganhou e o PT elegeu menos deputados federais. Mas isso ocorreu por causa do ambiente político negativo e não pela candidatura.
Todos os dirigentes partidários sabem disso, ter candidato ou não só depende de ter uma vertebra ereta. Afinal de contas, a legislação eleitoral tornou ilegal o dindin.