Foi difícil encontrar e prender o bandidão André do Rap, agora ainda mais famoso e rebatizado pelos companheiros de crime pelo novo apelido de André do Ministro. Uma singela homenagem dos bandidos ao ministro Marco Aurélio Mello, que deu uma interpretação favorável ao bandido em uma lei que teria sido elaborada para combater a criminalidade. Uma lei confusa e que parece feita para ajudar criminosos, tendo ultrapassado esse primeiro teste.
Parlamentares pediram a Bolsonaro para vetar detalhe do projeto que deixava uma fresta para a soltura legal de bandidos, mas ele se negou. O ministro Marco Aurélio Mello, assumiu a responsabilidade como indicado relator e apresentou sua histórica decisão. O advogado do bandido, que conseguiu a proeza, foi buscá-lo no presídio, em carro de luxo, e os dois desapareceram. A esta altura, segundo a Interpol, o fugitivo pode estar no Paraguai, que é o tradicional resort da bandidagem brasileira, ou na Bolívia, para aproveitar a oportunidade e negociar a redução do preço da coca com os fornecedores. E lançar uma versão light do produto.
Todos sabiam que o André do Rap, hoje do Ministro, é mal educado. Não mandou sequer um zap a Sua Excelência para agradecer-lhe a decisão. Onde estará o terrível André? Las Vegas, Abu Dabhi, estância hidromineral de luxo na Suíça? Ao longo de sua carreira André do Ministro, ex-Rap, vendeu só para a Europa mais de 4 toneladas de coca e outras drogas. Há mais de 6 anos o bandido estava sendo procurado, na lista dos realmente perigosos. Na primeira vez que foi preso, pouco depois foi solto.
A bronca viria a explodir de imediato no Supremo Tribunal Federal. Seu presidente, Luiz Fux, cancelou imediatamente a determinação anterior de Mello. Inimaginável. Um ministro da Corte de Justiça máxima do país soltar um bandido de comprovada periculosidade, crendo que se a lei estava errada tinha que ser seguida, mesmo errada. Se acaso houver outras leis estapafúrdias, uma providência deve ser logo observada. Entregar sua avaliação a um relator mais atento.
Ocorreu uma excrescência que não pode ser repetida. E não foi nada compreensível, apesar dos meandros das leis, mas sim lamentável para a justiça brasileira. A expectativa generalizada é que o plenário do STF mantenha na sesão de hoje a cassação da liminar de Marco Aurélio. O Brasil sempre foi um país com a sociedade vítima da corrupção, de todos os tipos. E a resposta do Estado nunca foi muito eficiente, no sentido de debelar o crime e proteger os cidadãos (ãs). O Presidente da República anunciou há pouco, com estranho orgulho, que teria acabado com a Lava Jato, denominação dada a uma efetiva campanha contra a corrupção desenvolvida vitoriosamente pela Polícia Federal. E obtido reconhecimento popular.
A quadrilha do sujeito que dominava crimes de dentro, quando estava preso, e de fora dos presídios, quando estava no gozo de fugas, abala a imagem do STF, através de decisão surpreendente de um de seus integrantes. Que insiste em que estava certo. E repele a posição de todos os que criticam sua decisão de aprovar o projeto com tamanha falha, que não passaria em um exame da OAB. Certo seria denunciá-la ao plenário e simplesmente negar, discordando da proposta disfarçada de libertar um criminoso.
Pouquinho de humildade e capacidade de ouvir comentários construtivos de outrem não faz mal a nenhum cidadão, nem que seja ministro do Supremo. O ministro Mello aborreceu-se e não poupa ninguém que tenha criticado sua decisão. Admitir esse erro seria descrer de sua excelente formação jurídica e qualidades de cidadão exemplar. Na verdade, foi nada tão extraordinário. Bandido solto no Brasil existem milhões. E esse erro foi revelado antecipadamente a vários responsáveis, mas ninguém se animou a fazer a correção. Nem o presidente da pátria amada.
— José Fonseca Filho é Jornalista