Vi um vídeo da campanha de Damares Alves esculhambando a Flávia Arruda.
As duas ex-ministras de Bolsonaro concorrem à única vaga para o Senado no DF e acabam disputando votos no mesmo nicho. Como o tal do poder deve ser bom demais, as candidatas entraram de cabeça no vale tudo da baixaria para ganhar a eleição.
Confesso que fiquei surpresa com a peça da campanha de Damares. Para quem se diz terrivelmente evangélica, o vídeo beira a falta de respeito à dignidade humana. Se alguém não viu, a narração sugere que Flávia “andou” com alguns políticos graúdos e que por causa disso chegou onde chegou. A cereja do bolo é quando dá a entender que Michele não gosta dela porque ela jogava charme pro marido poderoso. Diz ainda que Flávia acabou com o casamento anterior de Arruda, com quem, afirma o vídeo, mantém agora um relacionamento de fachada. Ou seja, de acordo com o filminho, Flávia é um perigo. Só faltou terminar assim: esposas, segurem seus maridos.
A campanha de Damares está usando um argumento antigo, muito batido, forjado no machismo brasileiro, de desqualificar uma mulher por sua beleza. Se a mulher é bonita e gostosa, como Flávia, não poderia ser competente. Na verdade, nem sei se é, mas sei que é absurdo Damares, que foi ministra da mulher, usar esse tipo de golpe baixo.
Não chego a me impressionar, afinal o discurso de Damares sempre representou com absoluta lealdade o discurso dos machistas. Para essa turma, mulher bonita só serve se for princesa e se se portar como subalterna dos machões que detêm o poder. Ou, caso contrário, que se comporte como um ser assexuado, que não desperta desejo em ninguém.
Para equilibrar um pouco o torneio de baixarias, Damares gravou um vídeo reclamando ter sido chamada por Arruda, o marido da bonitona, de amante de homem casado. Ela também?
Nessa troca de acusações envolvendo insinuações sexuais de baixo nível, lembrei de Bolsonaro dizendo para a deputada: “só não te estupro porque você não merece.” Parece que ele fez escola.
Esse pessoal vive falando de Deus e defendendo a família, mas, pelo jeito, por debaixo dos panos, há muito o que esconder.
Independentemente de serem verdadeiras ou não as acusações, isso não interessa aos eleitores. Mesmo porque cada mulher usa o seu corpo como bem quiser. Melhor mesmo é discutir pautas e projetos para um mandato no SF.
Por favor, Flávia, Damares e demais mulheres, vamos exercitar a sororidade e evitar cair nessa armadilha machista. Para nos desqualificar já temos uma imensa maioria na Praça dos três poderes.
Versão da Damares
A candidata ao Senado, Damares Alves encaminhou à redação de Os Divergentes nota negando que tenha partido de sua campanha o vídeo que circula pela internet com acusações misóginas e machistas contra sua principal adversária, a deputada Flávia Arruda.
A autora do texto, a jornalista Cláudia Abreu mantém sua opinião a respeito do vídeo, que chegou ao seu conhecimento como sendo da campanha da Damares, e dos fatos relatados no artigo. E, por fim, destaca que não fez nenhum ataque pessoal à ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos.
O site Os Divergentes, que preza pela liberdade de expressão e pelo amplo direito à defesa e ao contraditório, publica na integra a nota enviada pela assessoria da candidata Damares Alves, bem como os vídeos recebidos pela jornalista para que os leitores possam tirar suas próprias conclusões.
Segue íntegra da nota:
A campanha de Damares Alves repudia a afirmação de que elaborou e distribuiu um vídeo com acusações que atingem a honra e a dignidade da candidata ao Senado Flávia Arruda (PL). Acrescenta que o conteúdo exibido no vídeo é a reprodução, na íntegra, de uma reportagem publicada pelo jornalista Mino Pedrosa, no site Fatos Online. A campanha ressalta que o marketing eleitoral de Damares Alves é conduzido com muita ética, responsabilidade e a candidata Damares Alves é uma pessoa honrada e digna que não promove ataques a honra das pessoas. Como defensora dos Direitos Humanos, jamais promoveria ou incentivaria qualquer tipo de ataque, muito menos de uma mulher, candidata e ex-colega de Esplanada dos Ministérios. Damares é uma defensora das mulheres e ela foi uma das autoras da lei de combate à violência política contra a mulher. Diante do exposto, não restam dúvidas de que as acusações não têm embasamento.