Disfuncionais, nossas instituições sempre nos passam a impressão que estamos e somos piores do que a própria realidade. Temos uma crise econômica, uma crise ética e moral, um distanciamento crescente entre as estruturas do Estado e os interesses reais e imediatos dos brasileiros. A Nação parece mergulhada na distopia!
O Congresso Nacional, o Judiciário, o Poder Executivo, as chamadas instituições da sociedade civil – OAB, IAB, CNBB, ANJ, ONGs, Universidades…- também não expressam a reflexão inadiável das nossas urgências. A chamada grande mídia, com raras e honrosas exceções, não traz para a reflexão dos brasileiros as devidas informações, dados e textos continuados sobre a nossa pauta nesse momento de refazimento do mundo. Somos a nona economia da Terra, número incompatível com o nosso inaceitável flagelo social.
A pandemia acentuou e evidenciou todas as nossas penúrias. Nossa pequena classe média empobrece a olhos vistos. Cerca de 1,8 milhão de famílias estão perdendo esta posição de qualidade de vida ao longo deste ano. Espera-se o retorno de 15 milhões de brasileiros para as classes D e E ao longo de 2020. O desemprego, já gigantesco, deve crescer 3,5%. A informalidade, que já atingia cerca de 40% da atividade econômica no País, é de 65% no Nordeste e 70% no Norte do Brasil. Sem o auxilio emergencial de R$ 600,00 – valor imposto pelas lideranças do Congresso ao ministro Paulo Guedes – esses números seriam bem mais impactantes. Em meio a essa desordem, o governo criou o Renda Brasil, que deveria ser uma equilibrada política social de longo prazo, mas que parece atender às expectativas eleitorais que se avizinham.
Enquanto na Europa e nos Estados Unidos, governos, empresários e o sistema financeiro entenderam a urgência da expansão responsável, mas inadiável, dos gastos públicos, no Brasil o ministro Paulo Guedes insiste no tal do ajuste fiscal com o único objetivo de manter os lucros bilionários do sistema financeiro. Enquanto os bancos centrais europeus compram dívidas públicas, aqui o BC transfere, sem controle, alguns milhões de reais para o caixa dos grandes bancos, alimentando e expandindo uma dívida pública tanto impagável quanto inexplicável.
Insaciável com todos esses descaminhos, a República teima em se divertir com a condução do governador do Rio, Wilson Witzel, ao justo cepo, e com a deputada Flordelis, que espanta o mundo e a memória de Nelson Rodrigues, por não ter imaginado nada tão escatológico. Enquanto isso, como se fosse em outro planeta, parte da elite empresarial e financeira do País conduz, indiferente as idiossincrasias do governo, do Congresso e das demais instituições, a construção da bioeconomia. Definido pela ONU no ano 2000, o conceito de Pessoas, Produção e Planeta evoluiu, na última década, para a referência de Environmental, Social and Governance, a hoje famosa ESG.
Com 60% do seu território ainda preservado e com 70% da sua energia produzida em fontes renováveis, o Brasil é um dos maiores celeiros do planeta para a chamada “nova economia”. Enquanto o País se dilacera numa infinidade de degradações, o futuro que se aproxima, mais uma vez, configura-se para ficar nas mãos de meia dúzia de atentos senhores.