Em política algumas máximas tornam-se senso comum pelas verdades que trazem consigo. Uma delas é de que “eleição só está ganha depois que a última urna é apurada”. Não existe vitória antecipada. Claro que as pesquisas de opinião apontam algumas tendências do eleitor, mas este pode mudar de humor até na hora de apertar o botão, dependendo dos últimos acontecimentos políticos.
No Brasil atual não dá para cravar nada, sobretudo com tanto tempo de antecedência. Por isso, embora os institutos demonstrem uma polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula, até outubro do ano que vem tudo pode acontecer.
E eles sabem disso. Tanto que publicamente desdenham da possibilidade de uma terceira via. Na verdade, essa hipótese é o maior pesadelo dos dois, que sonham em se enfrentar. Bolsonaro aposta na rejeição ao petismo, já Lula tem certeza de que a disputa com o atual presidente garantirá uma volta triunfal ao Planalto.
E Lula tem razão em pensar assim. Afinal, não há como compara-los. Bolsonaro é um inepto, não sabe governar, apenas criar atritos o tempo inteiro com tudo e todos. A pandemia apenas ampliou a percepção da população mais consciente de sua mais absoluta incompetência. Também serviu para provar em definitivo que o discurso de honestidade, que lastreou sua eleição em 2018, não passa de conversa pra boi dormir.
Enrolado em rachadinhas, negociação de vacinas com picaretas e a proximidade com personagens conhecidos da política e da polícia, Bolsonaro cada dia afunda mais sua popularidade. Não tem mais argumento que justifique o descumprimento de todas as promessas de campanha. A cada dia, cada um de seus carros-chefes eleitorais sai do caminho. Viram pó.
Graças a sua má atuação frente à presidência da República, corre o risco, inclusive, de não ter sequer um partido para disputar as eleições do próximo ano, se até março não conseguir se filiar a alguma legenda. A incompetência de Bolsonaro e bolsonaristas é tamanha que sequer conseguiu criar o próprio partido por falta de apoio. Mas Lula também não terá vida fácil caso vá ao segundo turno com outro candidato que não Bolsonaro. Não fosse isso, não teria afirmado em uma entrevista na última terça-feira, que “a terceira via é uma invenção dos partidos que não têm candidato”, desdenhando dessa possibilidade.
O ex-presidente sabe que ainda carrega uma alta rejeição por parte de um eleitorado ainda indignado com os saques aos cofres públicos descobertos pelos escândalos do Mensalão e Petrolão.
Também não agrada parte do eleitorado brasileiro a mania que o PT tem de se achar o dono da verdade, sempre apontando os erros dos outros e escondendo os próprios. Tirando os devotos, o brasileiro minimamente bem informado tá cansado de ouvir os petistas culpar a mídia, a Lava Jato, a direita, a todos, menos a eles mesmos, pelos erros cometidos pelos dirigentes do partido.
Portanto, a possibilidade de viabilidade da chamada terceira via é o que une bolsonaristas e petistas em um mesmo palanque. Para Lula e Bolsonaro o melhor dos mundos é manter a polarização até as eleições.
Por isso, uma coisa é certa: o nome que se viabilizar minimamente com potencial para derrubar um dos dois do segundo turno sofrerá ataques virulentos por parte das milícias digitais dos dois lados. Seja Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Doria, Sergio Moro ou até mesmo o Cabo Daciolo.