No melhor estilo José Sarney, ou porque não dizer Bolsonaro, Lula confirmou o nome do seu advogado Cristiano Zanin para a vaga deixada por Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal Federal (STF). Ninguém pode dizer que foi surpresa, afinal, Zanin era pule de dez nas bolsas de apostas.
A indicação de mais um homem, branco e de classe social abastarda para compor a Suprema Corte deve ter deixado decepcionada a turma mais à esquerda ligada aos movimentos sociais ou a grupos identitários, que esperava alguém mais representativo ou inclusivo, pra usar uma expressão em voga. De preferência a indicação da primeira mulher negra para o STF.
Lula, no entanto, preferiu se garantir. Ao escolher Zanin, o faz mais por precaução do que por gratidão. Segue à risca a lição deixada pelo ex-presidente José Sarney, que sempre prezou por indicações de amigos em postos chave do Judiciário. Isso lhe garante até hoje poucos aborrecimentos com a Justiça.
Ao longo dos dois primeiros mandatos, ao escolher um nome para o STF, Lula sempre buscou ouvir os grupos ligados aos movimentos sociais – Carmem Lúcia e Joaquim Barbosa são exemplos. Ou conselhos de amigos como José Dirceu, na indicação de Dias Toffoli. De todos que nomeou, o próprio Lula já admitiu que o único que não o decepcionou foi Lewandowski.
O presidente sabe e até já falou por aí que os rumos do Mensalão e da Lava Jato teriam sido outros se tivesse indicado pessoas da sua confiança para a cúpula do Judiciário e do Ministério Público. No auge das investigações do Petrolão, Lula chegou a se queixar do que chamou de “ingratidão” por parte do então Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.
Depois de amargar mais de 500 dias na prisão, viu no exemplo de Bolsonaro que a escolha de um nome fora da lista tríplice para comandar o Ministério Público pode ajudá-lo muito a se livrar de problemas. Augusto Aras e sua fiel escudeira Lindôra Araújo foram bastante úteis ao capitão nos quatro anos que esteve no Planalto.
Lula sabe que Bolsonaro não é um bom exemplo a ser seguido. Mas já avisou que, assim como seu antecessor, não pretende respeitar a tal listra tríplice na hora da escolha do PGR. Tampouco vai se deixar influenciar pelos movimentos sociais ou identitários como fez no passado. Pode até indicar alguém representativo, que faça história na Suprema Corte, mas certamente vai exigir fidelidade em troca. Não quer correr o risco de nomear outro Joaquim Barbosa.
Do ponto de vista pessoal Lula pode até tá certo. Afinal, sabe o que penou nos últimos anos. Mas mostra que esqueceu muito do que disse durante a campanha eleitoral em contraponto a Bolsonaro.
No debate da Band, durante o segundo turno, Lula afirmou: “Não é prudente, não é democrático um presidente da República querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos. Você não indica um ministro da Suprema Corte pra ele votar favorável a você ou te beneficiar. Tentar mexer na Suprema Corte pra colocar amigo, pra colocar companheiro, pra colocar partidário é um atraso. Um retrocesso que a República brasileira já conhece muito bem”.
É, o Lula presidente deveria escutar mais o Lula candidato. Seria melhor para a sociedade. Ele não é obrigado a indicar ninguém que não queira, mas ao escolher o próprio advogado o coloca muito próximo do bolsonarismo. Uma pena!