Meu amigo Orlando Brito, a pior missão da minha vida foi levar você para aquele hospital o dia 6 de fevereiro. Quando cheguei na sua casa, olhei nos teus olhos e percebi o pânico, a incerteza do que estaria por vir. O trajeto é curto desde sua casa na SQN 205 até o Hospital da Asa Norte, mas demorou porque eu precisava dirigir devagar e com cuidado por causa das tuas dores.
Não havia alternativa. Era preciso uma cirurgia de emergência. Você ainda tentou resistir e tive de subir lá no centro cirúrgico para te dizer que aquela era a única alternativa para salvar tua vida. As coisas haviam chegado a tal ponto que, sem atendimento, morrer era questão de horas. Foi um dos mais tensos momentos da minha vida. Eu te dei um abraço e um beijo na testa e saí tão emocionado que nem dei falta dos meus óculos que ficaram pra traz e você recolheu. No dia seguinte, quando sua filha Carolina me mandou sua primeira foto depois da cirurgia, você estava com meus óculos ciscando no celular. Dia 8, teu aniversário, falamos. De lá pra cá foram muitas emoções, rezas, esperanças que vinham e iam, se perdiam e eram resgatadas.
A gente se falava todos os dias. E quando não falávamos, trocávamos mensagens pelo zap. Você era meus olhos lá naquelas solenidades do Palácio do Planalto, nas manifestações na Esplanada, me fazendo ver coisas que os jornalistas que lá estavam eram incapazes de enxergar. Eu te pedida mais um detalhe aqui e mais outro, ia juntando as peças e no final montava o cenário da análise de conjuntura e, invariavelmente, acertava. Agora você leva contigo para sempre esta janela para o poder que generosamente compartilhava comigo.
Eu sinto muito sua falta meu camarada. Sinto falta das nossas conversas, de falar bem e mau dos outros, rir, observar, almoçarmos juntos, irmos na Feira do Paraguai comprar aquelas bobagens eletrônicas que você tanto gostava ou simplesmente sentar num boteco e ver Brasília passar na nossa frente.
Outro dia me peguei te ligando pelo zap. Queria falar contigo sobre a guerra na Ucrânia, as pesquisas eleitorais, estas coisas que viraram a mais pura insignificância nesta nova dimensão onde você agora mora.
Sábado, dia 26 de fevereiro fui te ver na UTI do Hospital de Taguatinga. Uma despedida do meu amigo-irmão. Você naquele leito igual passarinho caído do ninho. Uma fragilidade, cheio de fios e acessos, três máquinas te segurando vivo. Disse o quanto sentia sua falta, o quanto todos os amigos estavam torcendo por você e que todos nós te amávamos e te queríamos de volta vivo e saudável. Falei, falei, rezei com você e sai dali sem conseguir segurar as lágrimas, mas aliviado por aquele momento.
Hoje cedinho, quando a Carolina me contou sobre sua partida, senti um aperto muito grande na alma. Neste 2022, agosto, o mês do desgosto, caiu em fevereiro. Não houve carnaval, veio a guerra, a doença, o Dida se foi e agora você se despede da gente. A única certeza que tenho é a de que, quando eu me mudar para esta outra dimensão, você estará me esperando para gente fazer uma bela farra.