Abraço de afogados

Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles

Nos últimos dias, noticiou-se à exaustão as negociações para a formação de uma chapa presidencial, que contaria com Geraldo Alckmin (PSDB) na cabeça e Henrique Meirelles (MDB) como vice. As condições para tal acordo incluiriam a defesa do legado do governo Temer por parte de Alckmin, que contaria com o apoio da máquina federal e partidos do centrão, garantindo-lhe grande tempo de TV durante a campanha. A confirmação deste acordo seria um tiro de misericórdia na claudicante candidatura tucana.

Dados das últimas pesquisas confirmam as dificuldades enfrentadas pelo ex-governador de São Paulo para fazer suas pretensões decolarem. Datafolha e IBOPE mostraram Alckmin perdendo para Jair Bolsonaro (PSL), em seu próprio estado, em qualquer cenário testado. Nos levantamentos nacionais, seus índices de intenção de voto não superam 8%, aparecendo distante do pelotão de frente na disputa.

A concorrida entrevista de Joaquim Barbosa no PSB, em Brasília.

O desafio do candidato tucano é conseguir resgatar o eleitorado do partido, que migrou em boa parte para Bolsonaro, e outra parte para o ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa (PSB). Tarefa árdua, visto que Bolsonaro e Barbosa tem perfil diametralmente oposto ao de Alckmin: são enérgicos e carismáticos, não estão envolvidos em escândalos de corrupção e são tidos como candidatos outsiders. Enquanto o tucano é calmo e sem graça (não à toa a alcunha de picolé de chuchu), está envolvido em inquéritos oriundos de delações da Odebrecht e é velho conhecido no sistema político, já tendo disputado a Presidência em 2006.

Até então, Alckmin tentava manter-se independente em relação ao governo Temer, embora seu partido tenha apoiado o impeachment e mantenha cargos na esplanada dos Ministérios. Era uma tentativa de se afastar de um presidente tido como ruim ou péssimo por 70% dos brasileiros. Para piorar, 86% dos brasileiros disseram não votar em um candidato apoiado por Temer.

Desta forma, um eventual acordo que tornasse Alckmin o candidato oficial do governo não funcionaria como uma catapulta para elevar suas intenções de votos, mas sim como uma âncora, que afundaria suas pretensões de vez. Para o tucano ter alguma chance de sucesso, o mais lógico seria uma candidatura “boi de piranha” de Temer, que atraísse toda a rejeição ao governo para si, liberando Alckmin da missão de defendê-lo. Ainda assim, faltando pouco mais de cinco meses para as eleições, o ex-governador de São Paulo seguiria como forte favorito a fiasco eleitoral do ano.

*Mestrando em Instituições, Organizações e Trabalho (DEP/UFSCar). Contato: ep.victor.oliveira@gmail.com

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