O Brasil não tem uma política nacional eficiente para enfrentar com firmeza o risco crescente do banditismo, do crime, da corrupção, da violência, a marginalidade dos milicianos, e ainda os abusos praticados com frequência pelos policiais desqualificados. Não se trata de uma nova realidade se formando, mas da manutenção de uma situação crítica e que não tem sido combatida nos últimos tempos. Acabou praticamente se estabelecendo com firmeza nas áreas de baixo nível social nas últimas décadas. À população sofrida resta, por enquanto, se abrigar da forma possível.
O atual governo já assumiu com a disposição anunciada de criar uma verdadeira política de segurança, eficaz e dedicada ao combate ao crime e à corrupção. Crime e corrupção há muitos anos estão reconhecidamente entre os maiores problemas do país. Para isso foi criado o Ministério da Justiça e da Segurança Pública e, para ocupá-lo um juiz consagrado pelo rigor e competência em sua atuação na Operação Lava Jato, até hoje a iniciativa mais exitosa na luta contra a criminalidade em nosso país. Como Ministro da Justiça, Moro pretendia alterar itens da legislação para torná-la mais abrangente e punitiva na guerra contra o crime e a corrupção.
Não conseguiu muito, nesse particular, e por divergências e antipatias entre ele e o presidente Bolsonaro, Moro acabou pedindo demissão do cargo. O fato é que nesse curto período não foi possível fazer nada para ampliar e melhorar o sistema anticrime brasileiro. Moro obteve grande aceitação popular pelo seu desempenho, e é sempre lembrado como eventual candidato à Presidência da República. Mas, sobre política, ele diz não gostar. Enquanto isso, vários setores do governo, da Justiça, do STF , PGR e até da OAB se esforçam para apresentar casos de possíveis irregularidades jurídicas praticadas pela Lava Jato, de modo a desmoralizar sua atuação. Mas em avaliação de pesquisas de opinião pública o conceito de Moro e seu trabalho na Lava Jato é bastante elevado.
Pois então ficou assim no Brasil: há um bando – ou mais – de insatisfeitos com o esforço de moralização do país realizado pela Lava Jato, que pretendem acabar com a Operação antes mesmo que seja concluída a lavagem de tanta patifaria encontrada pela frente. Ainda falta muito para acabar a coleta seletiva de bandidos e corruptos, que incluiu até o ex-presidente Lula, senadores, deputados, grande empreiteiros, ministros, uma coleção digna do Brasil: reuniu ampla gama de corruptos. Em consequência da campanha para tentar desmoralizar a operação, vários agentes da Lava Jato já pediram demissão de suas atividades. Por enquanto, da promessa de valoroso combate ao alto banditismo o atual governo fica devendo muito.
Enquanto não acaba a água do Lava Jato para tirar tanta sujeira, e até que seus adversários não se cansem de tentar derrubá-la, o Brasil vai ter de continuar essa luta que nunca acaba. Aliás, o bom combate ao banditismo deve ser assim mesmo: nunca acabar. Porque para acabar com os bandidos, não bastam armas e munições. É necessário que o Estado realize uma política de direitos humanos para a população carente, apoio material, escolas, alimentação, computadores e tudo o mais que for necessária para que as novas gerações sejam formadas, por jovens, homens e mulheres preparados, estudiosos e animados pelas perspectivas de trabalho e sobrevivência. Com pais, filhos e famílias. Com esperança na vida.
Sempre pode haver uma esperança, uma tentativa a mais de recolocar a vida dos pobres e desamparados com um padrão mínimo de dignidade. Que haja não só casa e comida, mas também estudo, escolas, computadores, internet, tecnologia. Música, esporte, lazer. Por que não, para quem mais precisa? A Operação Lava Jato já devolveu aos cofres públicos R$ 4 bilhões roubados pelos escroques da propina, mas esse total breve deve superar os R$ 14 bilhões, segundo estimativas oficiais. Se o Executivo não teve competência para incrementar um verdadeiro plano de combate ao crime e à corrupção, no Congresso se anunciam novas propostas nesse sentido.
Enquanto isso, cerca de 70 deputados e senadores se organizam para a apresentação de projetos para endurecer e apressar a punição de indivíduos envolvidos por atos de corrupção. Serão dezenas de projetos sobre propostas originárias da Transparência Internacional, com o objetivo de dotar o país de uma infraestrutura permanente para o combate à corrupção. O Congresso, que já tanto deve ao povo brasileiro em termos de realizações produtivas, deve batalhar pelo conjunto do projeto, que prevê também leis específicas para casos de corrupção entre empresas, além de outras propostas inovadoras. Trata-se de uma frente parlamentar contra a corrupção, onde alguns acreditam que existe mesmo uma campanha para desacreditar Sérgio Moro.
— José Fonseca Filho é Jornalista