Analisando os números do portal dos cartórios, onde temos informações sobre óbitos por idade em função da Covid – 19, já da para perceber o efeito positivo da vacinação iniciada no final de Janeiro no Brasil. Calculei em 46.000 o número de mortes evitadas no período de Fevereiro a Maio usando como premissa o percentual de óbitos por faixa de idade, do seguinte modo:
Em Dezembro e Janeiro, as mortes acima de 60 anos foram respectivamente de 77,8% e 78,3% do total, números muito próximos e compatíveis com todo o ano passado e certamente ainda sem carregar nenhum efeito de vacinação, que somente iniciou-se no final de Janeiro.
Assim, pode-se deduzir que a variação nesse percentual nos meses seguintes (de Fevereiro a Maio), foi a consequência direta e benéfica da vacina. E quais foram esses números (arredondados)? Fevereiro 74%; Março 67%; Abril 64% e Maio 56%.
Parecem bons, certo? Mas podem ser ainda melhores se fizermos um ajuste nesses percentuais.
Quando, em uma distribuição que totaliza 100%, tiramos uma parte, o restante se redistribui e “preenche” novamente os 100%. Mais claramente, se os mortos acima de 60 anos eram 78%, logo os abaixo de 60 eram 22%. Se o percentual maior se reduz para 65%, consequentemente o percentual menor sobe para 35%, como se as mortes dos mais novos tivesse aumentado, o que não é necessariamente verdade.
Usando como referencia os parâmetros do mês de Janeiro recalculei o novo 100% incluindo os que escaparam. Assim, os novos números para as mortes acima de 60 anos ficaram : Fevereiro 71%; Março 58%; Abril 52% e Maio 41%.
Bem melhores, certo?
O mês de Maio com 41% de mortes acima de 60 anos representa uma redução de 37 pontos percentuais em relação aos 78% de Janeiro. Muito bom! E ainda reflete pouco decréscimo na faixa de idade dos 60 a 69 anos (de 23% pra 20%).
Com essas reduções percentuais mês a mês na mão, da pra calcular quantas mortes foram evitadas: 1.222 em Fevereiro, 11.772 em Março, 15.540 em Abril e 17.674 em Maio, totalizando 46.209 brasileiros que “escaparam” nesse período! Infelizmente, 228.000 morreram nesses mesmos quatro meses.
E se a vacina tivesse começado uma mês antes, no final de Dezembro e não no final de Janeiro?
Não deixa de ser uma ilação, mas é um cálculo possível. Basta recuar cada percentual de mortes/sobreviventes um mês para traz. Assim, os índices de Fevereiro a Maio são colocados em Janeiro a Abril e estimado um índice pra Junho (que será usado em Maio).
Sabem qual seria o resultado se as vacinas tivessem começado 30 dias antes? Em vez dos 46.000, teriam sido 74.500 os sobreviventes, com mais 28.500 brasileiros vivos. Triste, né?
Os números poderiam ser ainda melhores. Por exemplo, o Rio Grande do Sul lidera a velocidade da vacinação em todo o Brasil e será que os resultados refletem isso?
Em Janeiro o percentual das mortes acima de 60 anos estava em 83% no RS e, agora em Maio, ficou em 43%, uma redução de 40 pontos percentuais, comparado com os 37% do país como um todo. Uma diferença de 3 pontos percentuais de mortes a menos dos gaúchos, simplesmente porque foram mais ágeis na vacinação.
Duas informações novas (e ruins) podem ser também deduzidas:
Mesmo com os ajustes nos cálculos percentuais, efetivamente aparece um crescimento no percentual de mortes abaixo de 60 anos, saindo de 22% para 32%. Além disso, houve um aumento da taxa de letalidade (mortes/casos) que, no final do ano passado estava menor que 2% e que subiu aceleradamente passando de 4% no final de Março e inicio de Abril.
Esses dois fatos podem ter sido causados pela morte de pessoas mais jovens nas filas dos hospitais ou com um atendimento precário em função do volume de casos.
Em função de todos esses fatos e dados listados acima, precisamos vacinar cada vez mais e mais rápido e, por isso, não faz sentido a redução da vacinação nos domingos e feriados e nem o estoque elevado de vacinas. Ah sim, e também vacinar a turma abaixo dos 60!
Cada dia perdido são mais vidas que se vão.
*Paulo Milet. Formado em Matemática pela UnB e pós graduado em Adm. pública pela FGV RJ – Consultor e empresário nas áreas de Tecnologia, Gestão e EaD.