Cada vez mais isolado, o governo de Nicolás Maduro intensifica busca de apoio internacional. Há uma semana próceres do regime iniciaram um périplo ao redor do mundo na tentativa de romper a asfixia financeira provocada pelo embargo financeiro e petrolífero ao país, liderado pelos americanos.
A vice-presidente Delcy Rodríguez foi à Rússia e se reuniu com líderes daquele país. Rodríguez esperava mais apoio econômico, como novos financiamentos para o regime. O presidente do Banco Central da Venezuela, Calixto Ortega, partiu rumo a China, Rússia e Turquia. Na pauta, conseguir mais ajuda financeira, além de tentar alguma renegociação às dívidas existentes.
A dupla é acompanhada pelos ministros das Finanças e Produção, Simon Zerpa e Tarek El Assami. Todos eles muito bem informados sobre o caos financeiro da Venezuela.
O país não tem recursos monetários suficientes para comprar o básico, como comida e remédios, há muito tempo. A situação se agravou com o embargo e o confisco de recursos. Estes passaram a ser controlados pela oposição no início de 2019.
Russos e chineses vinham oferecendo empréstimos e investimentos generosos aos venezuelanos antes do acirramento da crise, depois que o líder opositor, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente interino da Venezuela.
Na última terça-feira (5), o embaixador da Rússia na Venezuela, Vladimir Zayemski, admitiu que seu país tem fortes interesses econômicos na Venezuela, como a participação na exploração de campos de petróleo e gás natural, e mineração de ouro, por empresas russas. Zayemski reconheceu os riscos dessa relação, uma vez que as fontes de recursos do país caribenho estão secando.
Analistas internacionais acreditam que a Rússia investiu no país entre US$ 10 a US$ 17 bilhões. A empresa petrolífera russa Rosneft tem interesse nas imensas reservas da Venezuela. A Rússia mantém uma política de confronto com os Estados Unidos – numa espécie de nova guerra fria -, razão pela qual vem reequipando as forças armadas bolivarianas, com jatos Sukhoi, sistema de mísseis S300 a fuzis Kalashnikov.
A China, contudo, é a maior credora da Venezuela. Estimativas apontam entre US$ 50 a US$ 67 bilhões investidos, a maior parte em exploração de recursos naturais, especialmente petróleo.
A parceria vem desde Hugo Chávez, há quase 20 anos. Mas a investida chinesa é apenas comercial. Não interessa a ideologia. Aos chineses interessa apenas o comércio, se possível com estabilidade. O que não é o caso.
Outro país amigo de Maduro é a Turquia. O presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, vem se distanciando do Ocidente e vê em Maduro um autocrata como ele, um amigo.
Os turcos são grandes importadores de ouro venezuelano, matéria-prima da sua próspera indústria de joias. Há rumores também que o governo venezuelano vem transferido suas reservas do minério àquele país para escapar das sanções internacionais.
Ciente dessa dependência e do vínculo econômico de seu país com os regimes autocráticos do mundo, o autoproclamado presidente Juan Guaidó tem dado declarações de que vai respeitar todos os contratos feitos pelo regime. Evidentemente, interessa à oposição venezuelana romper os últimos laços internacionais que mantem o regime no poder.
* Luís Eduardo Akerman é jornalista e analista de política exterior. Ex-editor de Internacional do Jornal de Brasília.