Foi pouco notada a cerimônia de inauguração do Campus Brasília da Escola Superior de Guerra, no dia dois de junho próximo passado. A nova ESG funcionará na gigantesca sede que abrigou, até dezembro de 2019, as Escolas de Administração Púbica, ENAP, e de Administração Fazendária, ESAF, ao lado do Jardim Botânico do DF. Sua presença na capital teve início em 2011, com a criação do Campus Brasília da ESG, que funcionou, até então, no prédio do Ministério da Defesa.
Criada em agosto de 1949 por um grupo de oficiais que lutaram na Segunda Guerra Mundial, liderados pelo Marechal César Obino, a Escola Superior de Guerra instalou-se no interior da histórica Fortaleza de São João, na Urca, Rio de Janeiro. Seu primeiro comandante, Cordeiro de Farias, já atento aos sinais da Guerra Fria em gestação e com o apoio de oficiais estadunidenses chefiados pelo coronel Harvery, elaborou as diretrizes para a criação de um Think Tank geopolítico com foco no binômio “segurança e desenvolvimento”.
Voltada para a formação de uma elite civil e militar adequada aos desafios e à expansão econômica do pós-guerra, a ESG coloca-se como uma indutora de quadros para o novo sistema financeiro, petrolífero, siderúrgico e de telecomunicação que se assoalhava. Imbuídos de um certo poder moderador que sempre tiveram como uma herança indelével do Segundo Império, os militares, nos salões da ESG, davam contornos políticos e ideológicos à versão de Estado alinhado ao ocidente cristão e branco sob a batuta de Washington.
Assim, mais organizados institucionalmente, ainda que não menos indisciplinados, os militares atuaram politicamente de 1945 a 1964, até a implosão da democracia. Nem sempre unidos ou do mesmo lado, lá estiveram Castelo Branco, Eduardo Gomes, Jarbas Passarinho, Lott, Juarez Távora, Golbery, Octávio Costa, os irmão Geisel…Em algum momento esses militares, com grande destaque na vida politica do País antes e depois de 1964, passaram pela ESG.
Com o golpe, a ESG, já consagrada, amplia sua “distinção” ideológica e política na formação intelectual de civis e militares, agora seguindo a Doutrina de Segurança Nacional, com destaque para o “inimigo interno”. A saber: os opositores dos governos militares! Aos poucos, as tensões próprias de um governo autoritário foram estigmatizando as Forças Armadas. Os desconfortos da transição democrática, nossa relutância em enfrentar o passado construindo, de fato, novas instituições, inclusive redefinindo o papel – importante, devemos sublinhar – dos militares no País, distanciaram os civis do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
A eleição de Bolsonaro em 2018 e o tom do seu governo, em que pesem os ostensivos descalabros, indica bem as aspirações dos quarteis de reimprimir o “poder moderador” tutelando a sociedade brasileira. Não temos ainda a devida compreensão de como as Forças Armadas conviveram com as nossas instituições democráticas de 1988 até o inicio do atual governo. Mas é notório que desejam um novo ciclo de poder. A inauguração da nova sede da Escola Superior de Guerra em Brasília, naquelas dimensões, inspira reflexões