Está cada vez mais claro que o presidente Bolsonaro já escolheu o caminho do confronto para governar. E se os demais chefes dos demais Poderes engolirem a corda, o futuro do país poderá ser tenebroso.
Nos corredores do Congresso, o clima é de apreensão cada vez maior. Todos parecem não estar acreditando no que está acontecendo diante de seus olhos.
As cifras astronômicas da corrupção desvendada pela Lava Jato desde 2014 e a impunidade que prevaleceu até pouco tempo atrás entre os protagonistas de tantas falcatruas foram o estopim para que a política fosse criminalizada no país, com o apoio do Ministério Público e a conivência da imprensa.
Não que as reportagens expondo audaciosos esquemas de corrupção desvendados por procuradores e a Polícia Federal não merecessem destaque da mídia. Mas não há como negar que as denúncias em série acabaram jogando na vala comum todos os políticos, estivessem eles envolvidos ou não em irregularidades.
Como não existe unanimidade de pensamento, numa democracia a política sempre foi a condutora das negociações para conciliar ou dirimir as diferenças de opinião na sociedade, mediante representantes eleitos pelo voto direto para o Executivo e Legislativo.
Ciente, mais do que ninguém, da crise de credibilidade dos políticos, Bolsonaro decidiu que não pretende mudar a estratégia que o elegeu, muito menos decepcionar aqueles que abraçaram sua candidatura desde o início e, assim como muitos petistas em relação à Lula, poderiam sair às ruas em sua defesa independente do que ele faça ou diga.
Mas Bolsonaro trocou seu alvo, em vez de se contrapor ao ex-presidente Lula ou ao PT, agora mira o Congresso Nacional como um todo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que o diga.
Em reunião essa semana com um grupo de empresários, Bolsonaro deixou claro que, se necessário, convocará seus eleitores para confrontar o Legislativo, caso a pauta do governo seja rejeitada.
Aliás, foi o que ele e a chamada turma da “nova política” fizeram para derrotar o veterano Renan Calheiros na disputa pelo comando do Senado, com a ajuda de sua horda de seguidores nas redes sociais.
Na conversa com o guru Olavo de Carvalho, durante sua visita aos Estados Unidos, Bolsonaro teria sido mais claro ao afirmar que ‘é preciso destruir, para construir em cima”.
Um discurso, por mais incrível que pareça, que tem eco até mesmo entre aqueles brasileiros que discordam da maior parte do que Bolsonaro e seus filhos falam ou escrevem nas redes sociais. Mas concordam com a tese de que o presidente fez a sua parte ao encaminhar para o Legislativo a tão aguardada reforma da Previdência e o pacote contra o crime organizado e a corrupção.
Com seu discurso tosco, porém de fácil entendimento, de que cederá ao toma lá, dá cá proposto pela “velha política” para não acabar na cadeia como Lula e Michel Temer, Bolsonaro traçou sua estratégia para qualquer que seja o resultado da votação da Previdência.
Se a proposta for aprovada, será o grande vitorioso. Se for derrubada, a responsabilidade ficará nas costas do Congresso.
Paralelamente a isso, uma série de memes vem circulando em grupos de whatsapp pregando o fim do Supremo Tribunal Federal, justamente pela a turma da web que tem identidade com Bolsonaro. Em algumas mensagens, o fim da corrupção é vinculado ao fechamento do STF.
Em um café da manhã ontem (27) com um grupo de advogados de Brasília, representantes do mercado financeiro não haviam se atentado ainda para o risco de uma crise institucional no país de sérias proporções. Mas eles admitem o clima de tensão e decepção em relação ao governo Bolsonaro.
A velha máxima da política de que é preciso dividir para conquistar parece estar mais atual do que nunca. Já as consequências da estratégia adotada por Bolsonaro seguem imprevisíveis e, sobretudo, preocupantes.
Um grau de incerteza que tem crescido na mesma intensidade que a popularidade do presidente vem caindo.