A decisão da Justiça do Rio de Janeiro de determinar a quebra dos sigilos fiscal e bancário do vereador Carlos Bolsonaro, o filho 02, na investigação que apura a contratação de funcionários fantasmas e suspeita de rachadinha, deve agravar ainda mais o quadro de insanidade mental do presidente Jair Bolsonaro.
Desde que se sentiu acuado pelas prisões de aliados como Roberto Jefferson e Daniel Silveira e pelo avanço das investigações sobre os atos antidemocráticos e das fake news, o capitão partiu para o tudo ou nada, desafiando os ministros do Supremo Tribunal Federal e ameaçando incendiar o país no próximo dia 7. A jogada é arriscada. A manifestação pode ser um fiasco. Mas se tiver uma boa adesão, há o risco de o presidente esticar ainda mais a corda na briga com o Judiciário.
Em Uberlândia (MG), onde participou, na terça-feira, da cerimônia de inauguração do complexo de captação e tratamento de água, Bolsonaro incitou os presentes a participarem do ato em apoio ao seu governo na próxima semana. “Vocês estarão mostrando, no próximo dia 7, que quem manda no Brasil são vocês”.
E, sem citar nomes, mais uma vez provocou os ministros do STF afirmando que “chegou a hora de nós nos tornarmos independentes para valer e dizer que não aceitamos que uma ou outra pessoa em Brasília queira impor a sua vontade”.
A rixa de Bolsonaro com o Judiciário, mais especificamente contra o STF e TSE, se intensificou depois que os ministros reagiram aos ataques do presidente às urnas eletrônicas. Em discursos, entrevistas e na tradicional live de quinta, ele tentou colocar em xeque, sem qualquer prova, a confiabilidade do sistema. A prisão do presidente do PTB foi a gota d’água para que o presidente chegasse ao ponto de pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes ao Senado e agravasse ainda mais a situação de desarmonia entre os Poderes.
O desequilíbrio de Bolsonaro tem preocupado setores que antes o apoiavam integralmente. O agro é um deles. Esta semana, sete entidades representantes do setor agroindustrial assinaram um manifesto em defesa da democracia. O documento cobra que as lideranças brasileiras se mostrem “à altura do Brasil”.
O presidente da Associação Brasileira do Agro (Abag), Marcello Brito, em entrevista ao Roda Viva, na segunda-feira, revelou que representantes de entidades ligadas a outras cadeias produtivas não assinaram o manifesto temendo sofrer retaliação por parte do governo, já que muitas delas dependem de incentivos governamentais. É bom lembrar que a retirada do apoio do agro à presidente Dilma Rousseff foi decisiva para sua queda.
Embora a investigação da rachadinha no gabinete de Carluxo envolva apenas a Justiça do Rio, sem qualquer ligação com o Supremo ou com o TSE, o fato aumenta a tensão do presidente por colocar sua família mais uma vez no centro de uma investigação de corrupção e lavagem de dinheiro. Também agrava a já combalida relação de Bolsonaro com a imprensa, já que o inquérito foi aberto a partir de uma reportagem do jornal O Globo.
O esquema da rachadinha é comum no legislativo. Existe nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas e no Congresso Nacional. A grande maioria dos parlamentares usa desse expediente, independente de partido ou de ideologia política. A dificuldade é conseguir provar.
Em 2005, o então senador Geraldo Mesquita Júnior, do PSOL do Acre, foi acusado de ficar com 40% dos salários dos seus funcionários. Na época o caso foi chamado de mensalinho em alusão ao escândalo do mensalão O ex-senador chegou a ser absolvido pelo Conselho de Ética do Senado, mas sua carreira política foi por água abaixo.
Por envolver a família do presidente da República, o caso ganha um dimensão ainda maior. Afinal, além de ilegal e imoral, a rachadinha da família Bolsonaro desmoraliza todo o discurso moralizante com o qual o presidente foi eleito, mostrando que a “mamata”, está longe de acabar.
As investigações que apontaram o envolvimento do senador Flávio Bolsonaro, na época deputado estadual, no esquema de rachadinha da Alerj, trouxeram à tona figuras como o Fabrício Queiroz, o faz-tudo da família. E foram elas que desestabilizaram Bolsonaro antes mesmo da posse. A cada avanço nessas investigações Bolsonaro foi deixando de lado as principais promessas de campanha e se aliando ao que antes ele chamava de “velha política” para garantir a sobrevivência do clã.
Agora, com Carluxo no olho do furacão da rachadinha, o desespero de Bolsonaro vai aumentar, e o do País também.