Conta o historiador grego Heródoto, em seu livro História, que depois da conquista da Lídia pelos persas, os soldados do imperador Ciro promoviam o saque de Sardis, capital do reino conquistado, quando Creso, o rei derrotado e prisioneiro censurou Ciro por permitir o roubo na cidade ocupada.
Creso fez ver a Ciro que não eram os bens de Creso que estavam sendo assaltados, pois a capital de seu país não mais lhe pertencia depois da derrota; mas as propriedades do próprio Ciro é que estavam sendo roubadas, uma vez que este acabara de conquistar a cidade. Creso, rei da Lídia, censurou Ciro da Pérsia pelo saque da cidade de Sardis depois de conquistada.
Impressionado pela inteligente observação de Creso, Ciro ordenou que todos os bens saqueados fossem confiscados a pretexto de separar a parte destinada para a oferenda aos deuses.
A diplomacia brasileira vem sendo saqueada pelo atual governo em sua história, memória e tradições. Mas o assalto não atinge as realizações diplomáticas de um José Bonifácio ou de um Floriano Peixoto, para falar da diplomacia do passado; nem mesmo as realizações diplomáticas de Geisel, Figueiredo, ou dos governos civis de Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. O rei persa Ciro acolheu o sábio conselho de Creso e confiscou os bens saqueados por seus soldados.
A diplomacia de Bolsonaro assalta o próprio governo Bolsonaro ao subtrair dele prestígio, autoridade e reserva de poder nas complexas negociações internacionais. O acúmulo de erros, gafes e vexames do Itamaraty expõem o governo brasileiro na conturbada arena internacional.
O manual de erros da atual política externa vem sendo preenchido sem falhas ou lacunas:
1. A política externa divide o País quando deveria buscar a coesão social e a unidade nacional em torno dela como requisito para fazê-la forte internamente e respeitada externamente.
2. A política externa fabrica e multiplica conflitos com os vizinhos quando deveria buscar a mediação para administrar nossas próprias contradições com eles e as diferenças entre eles.
3. Desprovida da coesão nacional e fragilizada pelos conflitos e desconfiança dos vizinhos, a diplomacia brasileira tornou-se importadora das rivalidades geopolíticas das grandes potências no mundo e aliada incondicional de um dos polos do conflito, arrastando assim as nefastas consequências antinacionais produzidas por essa orientação.
A diplomacia de Bolsonaro assalta o prestígio de seu próprio governo e fragiliza suas ações na arena internacional.