Faltando mais de um ano e meio para a eleição presidencial, nos meios políticos não se discute outra coisa. Jair Bolsonaro e Lula, que nunca desceram do palanque, estão em plena campanha Brasil afora. Talvez por isso ostentem uma vantagem tão grande em relação aos pretensos adversários.
O centro vem ampliando as conversas, presenciais ou virtuais, visando chegar a um nome de consenso que possa abocanhar uma parte do eleitorado – cerca de 40% – que não deseja nem a volta do lulopetismo, nem a manutenção do bolsonarismo no poder.
Enquanto não há definição de um nome entre os candidatos de centro, lulistas e bolsonaristas comemoram os resultados das pesquisas como se a eleição já estivesse definida. Não levam em conta, por exemplo, a rejeição aos dois e a momentânea falta de opções.
Há quem torça para que as tratativas não avancem e a disputa seja pulverizada como em 2018, aumentando as chances de um segundo turno entre os atuais favoritos. Mas, as conversas continuam e, pelo menos por enquanto, há um entendimento de que somente a união poderá leva-los ao segundo turno. Se a vaidade não falar mais alto, é provável que o caminho seja uma grande aliança de partidos de centro direita e centro esquerda.
Para alguns analistas o centro está perdendo tempo ao não escolher o nome agora, há um sentido nessa indefinição: manter todos candidatos figurando nas pesquisas para verificar qual o desempenho de cada um e afinar o discurso de união até o início do ano que vem. Afinal, em um ano muita coisa pode mudar.
Mas talvez essa indefinição passe por outra questão: o bombardeio virtual promovido pelo “gabinete do ódio”, comandado por Carluxo, o 02, e pela máquina de moer reputações do PT, contra o nome escolhido. Não será uma tarefa fácil, afinal, os dois lados sabem muito bem descontruir uma narrativa.
Nesse quesito, talvez o maior defeito do ex-ministro Ciro Gomes – o temperamento explosivo – seja sua maior vantagem frente aos demais pré-candidatos. Afinal, o pedetista tem “couro grosso” e já enfrentou muitas pancadas nas três eleições presidenciais que participou.
Ciro também conta com o fato de não se intimidar frente as agressões. O que é comum acontecer aos demais candidatos. Marina Silva é um exemplo. Na eleição de 2014, se desestruturou completamente com os ataques da campanha de Dilma Rousseff e acabou deixando de ir ao segundo turno.
Escolado, o pedetista sabe partir pra cima dos adversários como um trator (ou em um trator, como queiram). Essa característica, numa eleição polarizada, talvez seja um ponto positivo. Ele só precisa encarnar, e convencer o eleitor, que representa o anti-bolsonarismo (esse todos representam) e o anti-lulismo.
Embora tenha peito para enfrentar os ataques dos dois grupos e serviço prestado ao país pela coronavac, João Dória acaba se perdendo no excesso de marketing que faz em todas suas ações. Além disso, tem fama de traidor pelo que fez com o padrinho político Geraldo Alckmin.
Já o apresentador Luciano Huck, acostumado com os aplausos, não aguenta uma semana de pancadaria na internet, mas pode ser um bom cabo eleitoral. E Eduardo Leite não conseguiu sair das fronteiras do Rio Grande do Sul. Pela direita resta Mandetta, que pode vir a ser um bom vice.
Entre os partidos de esquerda existem ainda as opções Guilherme Boulos e Flávio Dino. O impeditivo é o fato que os dois orbitam em torno do Lula e não darão nenhum passo sem o aval do petista. Diante disso, sobra apenas o pedetista.
Por fim, pesa a favor de Ciro Gomes o fato de ser um nome nacional, não apenas por ter sido ministro duas vezes, mas por ter participado de três eleições presidenciais. E mais, ao longo de todos esses anos de vida pública ter sido tachado, no máximo, de “destemperado”.
Pra quem vive às voltas com escândalos como mensalão, petrolão e rachadinhas, isso é até um elogio.