A França em guerra

Emmanuel Macron

Segundo os epidemiologistas há somente três coisas inevitáveis nesse mundo: a morte, impostos e epidemias de gripe. Estima-se que há cerca de um milhão de vírus que circulam na vida selvagem do planeta. Cerca de apenas 3 mil são conhecidos. A cada ano surgem cerca de cinco novas doenças, número que vem crescendo.

A forma como os governos e as pessoas lidam com as doenças faz toda a diferença.

Nós estamos em guerra sanitária, disse o presidente Emmanuel Macron em pronunciamento em cadeia nacional de televisão. O governo já havia adotado providências firmes para frear a propagação do vírus que assola o país. Creches, escolas, universidades já estavam fechadas. A reunião de mais de 100 pessoas está interdita.

A decisão que Macron vinha de anunciar, foi tomada com ordem, preparação e foi baseada em recomendações científicas.

O presidente Macron visita hospital em Paris onde estão internados pacientes com suspeita de coronavírus – Foto Divulgação

Diante da situação sanitária que se degrada fortemente, com crescente pressão sobre os serviços públicos de saúde, o presidente francês na noite de ontem resolveu endurecer jogo para limitar o contato das pessoas entre si. O governo decidiu proibir todos os deslocamentos de pessoas pelos próximos 15 dias. Agrupamentos externos, reuniões familiares ou entre amigos não serão mais permitidos. Encontrar amigos nos parques, nas ruas, também não será mais possível.

Governo francês fecha visitação à Torre Eiffel, em Paris – Reprodução Euronews

Porque o país está em guerra, não é possível entrar ou sair da França. O país sofre uma crise sanitária sem precedentes e trará consequências humanas, sociais e econômicas maiores. Um grande programa de ajuda aos mais frágeis será colocado em prática, a manutenção das empresas e dos meios de subsistência dos assalariados será mantida, assim como dos autônomos. Os mais pobres serão protegidos, terão alimentos, proteção e serviços – anunciou Macron.

Impostos e despesas sociais terão o pagamento adiado. Aproximadamente 300 bilhões de euros serão colocados à disposição das empresas. Faturas de gás, eletricidades e aluguel serão suspensas.

As pessoas não ficarão sem recursos, os assalariados terão acesso à remuneração. Funcionários de restaurantes, comércios que hoje estão fechados serão assistidos. O exército será mobilizado para ajudar com alimentos e assistência onde for preciso.

Diferentemente as coisas se passam no Brasil. Não é possível ver o presidente francês falar sem que inevitavelmente isso nos remeta ao Brasil. Triste constatar que em meio a uma crise que promete marcar a humanidade, constatar que temos um governo que nega a ciência, que volta as costas para seu povo para vender ilusões e criar falsos inimigos.

Falsos inimigos? Sim, eles são importantes. Como justificar o fracasso de uma economia que não gera emprego, que não gera renda?

Bolsonaro com admiradores nas manifestações do dia 15 de março

Temos um presidente aloprado que divide o país; que se dedica amealhar sua turba de seguidores fascistoides para assacar contra as instituições, esquecendo-se como elas foram erguidas após o período de ditadura. São imperfeitas, claro. Mas constituem o último refúgio de defesa da cidadania, dos direitos da pessoa humana e a trincheira contra o arbítrio.

Sob o controle de um presidente aloprado o país consome suas energias, sem se de dedicar ao essencial: cuidar do povo, da sua gente. Mas o que esperar de um presidente que desdenha da ciência, da cultura, da educação?

Não, não temos um presidente tal qual Macron, que com erros e acertos não deixa de olhar para sua gente.

Que medidas o governo pretende adotar para os 38,3 milhões de trabalhadores na informalidade? E os 11,9 milhões que estão no desemprego? As pequenas e médias empresas, o que podem esperar?

Aqueles que ainda possuem carteira assinada, terão algum tipo de proteção. Mas e os demais?

A conta do estado que corta investimentos, que corta gastos em saúde, em proteção social, que não planeja, que não tem projeto de desenvolvimento poderá chegar mais cedo do que se espera.

Que não venha na forma de uma tragédia.

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