Estímulos de Guedes podem ser insuficientes para evitar novo pibinho

As medidas adotadas pelo Ministério da Economia para estimular a economia e combater os efeitos do coronavírus podem não ser suficientes para evitar nova recessão econômica

Paulo Guedes, o ministro da Economia do Governo Bolsonaro - Foto: Orlando Brito

Tão desastroso para economia quanto o covid-19 é a volatilidade do câmbio e a desvalorização do real. Só nos próximos meses os economistas terão dados mais objetivos para avaliar o tamanho do estrago que recairá sobre o projeto de crescimento do governo de Jair Bolsonaro.

É muito provável que o crescimento seja pífio e até mesmo recessivo pela maneira equivocada do ministro da Economia, Paulo Guedes, dar respostas à crise. Paulo Guedes continua insistindo nas suas teorias de que apenas com ajuste fiscal os empresários nacionais e estrangeiros vão alavancar o crescimento.

Neste momento, porém, os investidores estrangeiros e nacionais estão mais preocupados em salvar suas empresas diante desta crise econômica de escala mundial.

Paulo Guedes está com a oportunidade de, com uma mão soltar recursos para manter os empregos e a atividade das empresas, como é consenso entre diversos economistas que passaram pelo governo, e com outra aprovar os cortes de gastos obrigatórios no Congresso Nacional e levar adiante a reforma tributária.

Economia real

Na economia há dois preços que são fundamentais para definir o que pode ajudar ou atrapalhar o crescimento: juros e câmbio. A teoria econômica indica que, quando a autoridade monetária controla os juros, o câmbio ficará livre para flutuar.

Da mesma forma, quando tem uma política cambial sob controle, como no Plano Real, as taxas de juros vão flutuar. O ministro da Economia, Paulo Guedes, escolheu controlar as taxas de juros ancoradas em um controle fiscal de gastos.

Com as últimas reduções de juros e a próxima que está no forno do Banco Central haverá uma fuga ainda maior de capital estrangeiro e desvalorização do real que também vem ocorrendo em função da crise nos mercados financeiros internacionais. As reservas existem para isso mesmo. Porém, neste momento de controle de juros, elas deveriam ser melhor utilizadas para evitar grandes oscilações e impactos na economia real.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto – Foto: Orlando Brito

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem recorrido às reservas internacionais para enfrentar estes ataques contra a nossa moeda. A cotação do real nos atuais patamares de R$ 5,00 tem impactos em todos os setores da economia do Brasil e nas relações de troca com o resto do mundo.

É verdade que os exportadores poderiam estar ganhando mais não fosse a redução dos preços de muitos produtos exportados pelo Brasil, em função da redução do consumo e os efeitos do covid-19. Da mesma forma, tudo que o Brasil está importando, de alimentos, bebidas, máquinas, equipamentos e insumos agrícolas, fica mais caro.

Ações limitadas

Enquanto os Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, entre outras nações, adotam políticas econômicas para amenizar os estragos e estimular a atividade da economia real, no Brasil, Paulo Guedes e sua equipe continuam apenas defendendo a aprovação da reforma administrativa, pacto federativo e reforma tributária no Parlamento. Se aprovados este ano, os resultados virão a partir de 2021.

Paulo Guedes acerta ao liberar R$ 147 bilhões de recursos aos aposentados para amenizar os efeitos da doença e incluir 1 milhão de pobres no Bolsa Família, mas erra ao ignorar ações mais eficazes para manter os atuais níveis de crescimento da economia. O momento exige criatividade dos formuladores de política econômica para injetar recursos na economia real, evitando queda de consumo, maior desemprego e perda de arrecadação do governo, o que neste caso só iria piorar a situação fiscal.

As medidas pontuais adotadas pelo Banco Central, de liberação de compulsórios e flexibilização da obrigação de fazer provisionamento dos créditos em atraso dos bancos, em pouco estimulam a economia. Na realidade, servem apenas para dar maior liquidez aos bancos.

Da mesma forma, a redução das taxas de juros, como já observamos, ajuda muito pouco na decisão de quem vai investir. Os juros contribuem muito mais para reduzir os custos da rolagem da dívida pública, trazendo economia aos cofres públicos.

Falta estímulo

A antecipação do pagamento do décimo terceiro dos aposentados, o estímulo ao crédito consignado e a liberação FGTS são medidas que contribuem para dar maior conforto a esta parcela da população mais vulnerável ao covid-19, mas não será apenas isso que vai evitar que a economia vá pro buraco de vez.

É preciso que a equipe de Paulo Guedes adote medidas que, de fato, estimulem a economia diante desta situação excepcional da economia mundial. A comunicação e a credibilidade de Paulo Guedes, que hoje deixam a desejar, é um fato fundamental para dar confiança aos agentes econômicos e convencer o Parlamento a aprovar as medidas que são necessárias para o momento.

O governo está sem uma estratégia de comunicação articulada entre o Planalto e seus ministros para lidar com a crise. O que dizer aos agentes econômicos e como se manifestar é um fator que poderia evitar muitos dos ataques especulativos que o País está enfrentando a custos elevados de suas reservas e de seu crescimento econômico futuro.

 

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