“Dutra – Memórias de um garçom de Juscelino, mordomo em Brasília”. Este é o título do livro que a jornalista Rosalba Ribeiro da Matta Machado e a família de José Dutra Ferreira lançaram no dia 21 de abril de, quando a Nova Capital completou 61 anos. Ela relata histórias de Juscelino Kubitschek; reminiscências do médico Ernesto Silva e outros personagens considerados “braço direito” de JK: Israel Pinheiro e Bernardo Sayão.
Lea, filha de Sayão, ajuda a enriquecer as histórias do livro em que Dutra é figura centgral durante o período de 1957 a 1997.
O garçom mineiro, viveu de perto a construção de Brasília. Ou seja, do início até 35 anos depois. Nesse período, viu o desenrolar da história política do país. Serviu a três presidentes da República: JK, Jânio Quadros e João Goulart. E a alguns chefes do Gabinete Civil da Presidência, um ministro da Fazenda e vários presidentes do Senado Federal,
além de três primeiros-ministros.
Dutra foi trazido por um amigo de sua cidade natal, Araxá, em Minas Gerais, na carroceria de um caminhão, junto com outros conterrâneos que pretendiam trabalhar na construção da Nova Capital. Mas seu desejo era atuar como garçom. E acabou indo conseguindo uma vaga para atender ao presidente Juscelino Kubitschek e família, nos dias em que estivessem morando no Catetinho. Dutra já tinha experiência adquirida no restaurante do Grande Hotel de sua cidade onde trabalhara com o amigo Pedro Massad, que tornou-se recrutador de mão-de-obra para a construção da Nova Capital.
Rosalba Ribeiro da Matta Machado, com seu estilo prazeroso, rico e sensível, aliado à arte da pesquisa, deu vida à história de um homem simples, um servidor fiel, profissional, observador calado e voltado mais para seu trabalho e para a família do que para as chamadas fofocas de gabinetes. Essas características, no entanto, não impediram que José Dutra observasse o que acontecia em sua área de trabalho, o seio da política. Desde os agitados anos marcados pelo empreendedorismo de Juscelino Kubitschek – seus assessores diretos na concretização do sonho de construir Brasília – até a eleição de José Sarney, na presidência do Senado Federal, no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.
O livro revela lances, narrados por José Dutra, que precederam à renúncia de Jânio Quadros. Por exemplo, uma reunião de militares no Alvorada para discutir a posse de João Goulart. Na curta passagem de Jango pela Presidência, Dutra voltou foi servi-lo também no Planalto, de onde assistiu à chegada dos Militares, em 1964.
Dutra organizou algumas recepções também na Granja do Torto, onde morava o general Ernesto Geisel, cujo endereço residencial durante grande parte do regime militar era o Palácio do Alvorada. Mas Geisel morou também na Granja do Ipê. E como conta o garçom, esse nome adveio das iniciais do primeiro morador, Israel Pinheiro – o I.P.
São muitas histórias vivenciadas por um funcionário das cozinhas e copas palacianas, onde a Escola dos Anais se faz presente, pois Dutra descreve os inúmeros banquetes que preparou e a história de alguns pratos, das comidas servidas e saboreadas pelos comensais. No livro, ele descreve preferências das madames e seus importantes maridos, bem como algumas receitas dos acepipes mais saboreados.
Rosalba Ribeiro da Matta Machado trabalhou em vários veículos de imprensa, em Brasília, dentre os quais o Jornal de Brasília, a Revista Isto É e o jornal O Estado de São Paulo, fazendo cobertura no Itamaraty, Congresso Nacional e na área militar. Neste seu primeiro livro, em que revela um talento excepcional de escritora, historiadora e contista, Rosalba deixa uma rica contribuição para a história de Brasília, não só de sua construção, como de personalidades marcantes como Juscelino, Israel Pinheiro, Bernardo Sayão e de seus pioneiros, personificados na figura de José Dutra Ferreira, o garçom de JK e mordomo de tantas outras figuras políticas nacionais.
— Zenaide Azeredo é jornalista