Restam 23 meses para o presidente daqui continuar xingando e desrespeitando os brasileiros (as) de qualquer natureza, desde que incorram na raiva, na antipatia e no deboche gratuito do Chefe do Governo. Falta de educação doméstica, no mínimo, para poupar adjetivos. A preferência do Bolsonaro é a alergia e ódio que nutre pelos jornalistas, obrigados a escrever ou falar sobre presidentes, políticos, miséria, tudo que existe na vida. Algo que o Chefe de Governo daqui não consegue entender. Esta é a obrigação, a missão do jornalista. É um trabalho profissional exercido mais por aptidão do que por interesses materiais. Muitos jornalistas morrem vítima dos riscos da profissão.
Mas o presidente capitão da reserva é viciado em criticar os jornalistas e os jornais, revistas, tudo que tiver algumas letras, fotos e anúncios. Um caso de paixão mórbida. A última explosão não conseguiu ser aplacada pela beleza da praia catarinense. E o homem vai se tornar profundo conhecedor das artes da imprensa. De uma tacada desancou os maiores jornais do país, no domingo, tachando todos de transmissores de fake news. Breve ele vai ouvir falar também em fake govern, uma instituição brasileira recente, ainda em teste, e sendo denunciada pela imprensa que ele tanto odeia. Os jornalistas não se sentem atingidos por essa predileção presidencial. Na verdade, ignoram absolutamente. Aquele da motocicleta? Aquele do jet sky? Aquele do leite condensado?
Os jornais citados pelo presidente na praia, alguns honrados pela atenção dos leitores por mais de cem anos, ou quase isso, são empreendimentos de alto custo e risco, e travaram campanhas que o presidente parece não ter conhecimento. Foram eles, além de outros já desaparecidos, que estimularam, na área da comunicação, a mobilização popular que deu suporte à ação das Forças Armadas e derrubaram o governo Goulart. Uma obra que o presidente tanto admira e exalta, principalmente em relação aos verdugos transformados em torturadores, alguns deles venerados pelo capitão.
A imprensa brasileira foi um dos principais baluartes da chamada Revolução de 64 – ou Golpe, ou Redentora, como quiserem classificar. Talvez o atual presidente fosse recruta na época. Mesmo assim, tendo sido expulsos os comunistóides, esquerdóides, fidelóides e afins, Bolsonaro ainda pensa que o Brasil está prestes a ser atacado pelos comunistas. Não se sabe de onde eles viriam. Se for de Cuba, as tropas de lá sairão pelo porto da Odebrecht, obra do capitalismo do BNDES. Se forem da Coréia do Norte, ufa!, será uma varredura de foguetes. Felizmente, o presidente não sabe o que fala.
A mania de xingar, desrespeitar, insultar, falar bobagens professadas pelo presidente e seus seguidores fanáticos, já cansou o povo brasileiro. O desrespeito mais ainda. E a tristeza está chegando. A população civilizada está perdendo a paciência com a máquina de insultos, e o deslumbramento surpreendente da população poderá ir se reduzindo até 2022. O contrário também pode acontecer, um novo crescimento do apoio, mas a paciência com o mau gosto está diminuindo. A democracia é uma força extraordinária e o melhor sistema de governo do mundo. Por vezes, sofre crises de consciência ou entendimento. Só no Rio de Janeiro a democracia já elegeu cinco ladrões para o governo do Estado.
A eleição está chegando. Talvez agora com envelopinhos para colocar o voto, como nos pleitos antigos. Bolsonaro já frisou que a votação eletrônica favorece a fraude. Mas não se despreza o poderio dos contendores. Até agora consta que o Bolsonaro tem mais possibilidades eleitorais do que seus possíveis adversários, o que demonstra a pobreza do quadro político nacional. O povo tendo de aturar tudo. Enquanto isso, as vacinas estão faltando em várias cidades, nas quais a vacinação teve de ser suspensa. É melhor que o presidente fique zangado e saia dando chutes nos coronavírus. Pode até acertar alguns.
O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) não é deputado. É um moleque. Caçador de ministros do STJ, supõe-se como futuro chefe da campanha de reeleição do Bolsonaro, e vai treinando suas grosserias, depois de várias passagens pela polícia carioca. Quer publicar uma cartilha do AI-5. Até lá a lei Bolsonaro já terá liberado dezenas de milhares de revólveres, fuzis e metralhadoras para uso geral. É por aí que os provocadores pretendem avançar.
— José Fonseca Filho é jornalista