Em “Sapiens, uma breve história da humanidade”, Yuval Harari nos apresenta um relato sucinto de como se deu a revolução científica. Vamos acompanhá-lo.
Há 10 mil anos os Sapiens começaram a deixar de ser caçadores-coletores e passaram a manipular a vida de algumas espécies de animais e plantas, se fixando em territórios e dando início à Revolução Agrícola.
Quando um bando de caçadores-coletores era ameaçado tinha a opção de se mudar para outro local. Já como agricultores a tendência era defender sua propriedade e permanecer. Com o tempo, a violência humana foi controlada por meio do desenvolvimento de estruturas sociais maiores – cidades, reinos e estados.
Entre 1000 a.C. e 500 a.C apareceram os primeiros megaimpérios como o Assírio, o Babilônico e o Persa. O Império Romano, em seu auge, arrecadava impostos de até 100 milhões de súditos e, com isso, financiava um exército de até 500 mil soldados. Mas o que mantém a ordem militar? Pelo menos alguns dos comandantes e soldados precisam acreditar realmente em alguma coisa; seja Deus, honra, pátria, coragem ou dinheiro.
Quando, depois da Revolução Agrícola, começaram a surgir sociedades particularmente complexas, um novo tipo de informação se tornou vital: os números. Os caçadores -coletores nunca precisaram lidar com grande quantidade de dados matemáticos, de modo que o cérebro humano não se adaptou para armazenar e processar números. Mas, para manter um reino grande, dados matemáticos eram fundamentais.
Por volta de 1500, a história fez sua escolha mais importante, modificando não só o destino da humanidade como também o destino de toda a vida na Terra. Nós a chamamos de Revolução Científica. De 1500 até hoje a população humana aumentou 14 vezes; a produção, 240 vezes e o consumo de energia,115 vezes.
Durante essa revolução, a humanidade adquiriu novas capacidades gigantescas, investindo recursos em pesquisa científica. O típico governante pré-moderno dava dinheiro para padres, filósofos e poetas na esperança que eles legitimassem seu poder e mantivessem a ordem social. Ele não esperava que eles descobrissem novos medicamentos, inventassem novas armas ou estimulassem o crescimento econômico.
A Revolução Científica não foi uma revolução do conhecimento. Foi, acima de tudo, uma revolução da ignorância. Tradições de conhecimento pré-modernas como o islamismo, o cristianismo, o budismo e o confucionismo afirmavam que tudo que é importante saber a respeito do mundo já era conhecido e estavam nos livros sagrados. A disposição para admitir ignorância tornou a ciência moderna mais dinâmica.
Para entender o universo, precisamos relacionar as observações em teorias abrangentes. As tradições anteriores geralmente formulavam suas teorias na forma de histórias. A ciência moderna usa a matemática. Ao longo dos últimos 200 anos, desenvolveu-se um novo ramo da matemática para lidar com os aspectos mais complexos da realidade: a estatística. Na Europa medieval, a lógica, a gramática e a retórica formavam o núcleo educacional, ao passo que o ensino de matemática quase nunca ia além da simples aritmética e geometria. Ninguém estudava estatística. A monarca incontestável de todas as ciências era a teologia.
Mesmo em 1800, a maioria dos governantes que quisessem um exército forte e a maioria dos magnatas que quisessem um negócio próspero não se dava ao trabalho de financiar pesquisas em física, biologia ou economia.
À medida que a ciência começou a resolver um problema insolúvel atrás do outro, muitos se convenceram de que a humanidade poderia superar todo e cada um dos problemas que a aflige. A pobreza, a doença, as guerras, a fome, a velhice e a própria morte não eram o destino inevitável da humanidade. (Trechos do livro Sapiens de Yuval Harari)
É bom ouvir sobre a história da ciência, matemática e estatística, em época de terraplanismo, negacionismo, cálculos estrambólicos de motos, remédios sem comprovação, rejeição de vacinas, curandeirismo, teorias da conspiração, correlações esdrúxulas, erros grosseiros de previsões e justificativas para o injustificável.
Vai passar. A revolução científica vai vencer.