Os tucanos patinam entre a moderação do picolé de chuchu e o frenético “não político”, o que falta ao trabalho quase todo dia para fazer política. Os líderes em torno do presidente 3%, como Henrique Meirelles e Rodrigo Maia, não crescem nem aparecem. Mas a angústia de buscar um nome para 2018, enquanto o extremismo come votos pelas beiradas, não consome só o PSDB e os liberais. No outro lado do campo, o jogo também está agarrado. O purgatório de Lula, entre o inferno dos tribunais e o céu das pesquisas eleitorais, leva o maior partido da esquerda de volta à dúvida que o atormentou na adolescência: afirmar a identidade ou correr atrás de votos.
A primeira questão petista é entre construir uma aliança alternativa a Lula ou abraçá-lo sem olhar para o lado, mesmo sob o alto risco de ser um gesto de afogados. A segunda opção hoje parece seduzir a maioria, mas a agonia não é só em relação às eleições presidenciais. Espalha-se pelos estados, divide militantes e pensadores como nas lutas quase fratricidas dos anos 1980 entre aliancistas, como José Dirceu e o próprio Lula, e os puristas, muitos expelidos para outras legendas.
De um lado estão os petistas que sentiram o sabor do poder e só veem sentido na disputa se for para valer, para recuperar o mais rápido possível, com a aliança que estiver à mão, o que lhes foi tomado pela contingência de forças hostis no Legislativo, no Judiciário, na Fiesp, na mídia e no Jaburu. No outro lado do anfiteatro está a tese de que a hora é de candidatos icônicos, exclusiva e visceralmente dedicados a defender o legado de Lula e a entoar o discurso ideológico contra “as elites” muito mais do que as propostas para ganhar votos e governar.
Sérgio Moro disse que a Lava Jato está chegando ao fim, Temer está prestes a ser reconfirmado no cargo, e o combate à corrupção vai, aos poucos, ganhando ares de rotina nos corredores de uma Procuradoria Geral da República menos dada a pirotecnias. Chega em bom momento a dica de Barack Obama para que os brasileiros participem da democracia antes que a percam de novo. A hora é de pensar no processo que, em outubro do ano que vem, vai lavar com milhões de votos a crise de legitimidade que inibe esperanças e investimentos no país. A capa da revista Veja, com a foto do bicho papão, é como um apito sinalizando o fim do ensaio. O jogo precisa começar.