O BCE (Banco Central Europeu) e o FED (banco central dos EUA) iniciaram um processo de enfrentamento à inflação que terá reflexo sobre o crescimento da economia global e a do Brasil.
Ainda é cedo para os economistas estimarem o tamanho da recessão que vem pela frente em função dos aumentos das taxas de juros para conter as elevações dos preços, especialmente os das commodities.
O presidente do FED, Jerome Powell, voltou a dizer que o objetivo do banco central norte-americano é baixar a atual inflação dos Estados Unidos, de 8,6% para 2% ao ano. Hoje, as taxas de juros por lá são de 1,75%, mas novos aumentos deverão ocorrer para que haja um desestímulo ao consumo dos residentes nos EUA. As previsões feitas pelos agentes financeiros dos Estados Unidos são de que os juros do FED poderão atingir a marca de 3,4% ao ano a fim de trazer a inflação para dentro da meta, de 2%.
Juros desta magnitude praticados nos Estados Unidos são um fator decisivo para a atração de recursos do resto do mundo para a maior economia do mundo. O dólar, sendo moeda usada nas transações comerciais por todos os países, tem um forte peso como reserva de valor e dá segurança aos poupadores e investidores de todos os demais países. Por conta dos últimos aumentos dos juros do FED, o dólar já teve acentuada valorização.
Se antecipando aos efeitos de maior procura pelo dólar, Jerome Powell disse que o FED encoraja a comunidade internacional a segurar o uso de dólares e alertou que o amplo uso da moeda também pode representar desafios de estabilidade financeira e afetar famílias, empresas e mercados. “Por essa razão, o Fed opera instalações de liquidez que servem de amparo para que os detentores de ativos em dólar possam estar confiantes de que as tensões serão atenuadas quando esses mercados ficarem sob estresse”, disse Powell.
Juros altos + preços elevados = recessão
O Brasil certamente não passará incólume a este grande ajuste das economias dos Estados Unidos e da Europa. A fuga de capital de investidores estrangeiros ancorados em solo brasileiro será inevitável. Até mesmo o envio de recursos de brasileiros ao exterior deve aumentar em busca deste atrativo de remuneração em dólar, além de permitir a fuga dos riscos dos resultados das eleições de 2022. O Brasil tem reservas internacionais da ordem US$ 355 bilhões, mas no atual governo de pouco ajudaram a conter as especulações e a desvalorização do real.
A profundidade da estimada recessão econômica dos Estados Unidos ainda é incerta. O FED está agindo para reduzir a inflação com o menor prejuízo sobre o crescimento. É o mesmo objetivo do presidente do BC do Brasil, Roberto Campos Neto, especialmente em ano eleitoral. A economia do Brasil já vinha caminhando a passos largos para um quadro recessivo em função das taxas de juros de 13,25% ao ano. Agora, com o aumento dos juros mundo afora, é certo que, na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), a taxa Selic deve subir para 13,75%.
Quem sair vitorioso das urnas em outubro próximo terá pela frente anos muito difíceis de recessão econômica e desequilíbrio fiscal agravado em relação ao já deteriorado quadro atual. As contas do Governo Federal e dos estados no Brasil só conseguem atingir um certo equilíbrio com crescimento da economia, mesmo assim o estoque da divida pública federal hoje equivale a 78% do PIB (Produto interno Bruto). Quando o País entra em recessão com baixo crescimento econômico, os recursos arrecadados são insuficientes para cobrir despesas obrigatórias como de pessoal, previdência, educação, saúde, sem falar dos RS 5 bilhões do fundo eleitoral e dos subsídios do Tesouro Nacional a diversos segmentos, como à Zona Franca de Manaus, ao setor agrícola etc.
A considerar suas reações sobre o encontro com presidente norte-americano, Joe Biden, o mandatário brasileiro, Jair Bolsonaro, não deve ter sido informado pelo colega da América do Norte sobre a política monetária contracionista dos Estados Unidos. Ou não compreendeu o tamanho da encrenca.