É preciso por os pingos em todos os is. O esquema de corrupção no Ministério da Saúde vem de longe, não foi criado pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi por ele mantido. Virou deboche o falso enredo, feito às pressas por marqueteiros incompetentes, que se derreteu em uma tumultuada e histórica sessão da CPI da Pandemia.
O que rolou nas tentativas de venda e compra da vacina Covaxin é um escândalo. Em todas as suas etapas. Se o governo Bolsonaro, com todos seus esquemas de investigação e espionagem, agisse com um mínimo de decência, em poucos cliques na internet teria descoberto a falcatrua. Os trambiques da Global e da Precisa, que têm os mesmos donos, são públicos, notórios e casos de polícia.
Se Bolsonaro não estivesse enrolado com essa turma, depois da denúncia dos irmãos Miranda, teria o detonador na mão contra governos petistas.
Aos fatos: segundo investigadores do Ministério Público, Francisco Maximiano, no papel dono das empresas envolvidas nesse e em outros escândalos, chegou ao Ministério da Saúde apadrinhado por João Vaccari Neto, à época poderoso tesoureiro do PT.
Por que Bolsonaro, com esse trunfo na mão, não chutou o pau da barraca? É que a exemplo das gestões petistas virou refém dos operadores do Centrão. Tem uma figura nesse time que sempre deu as cartas. Foi essa a opção decisiva para a Câmara dos Deputados autorizar a abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O PP negociou com a turma de Temer a nomeação do deputado Ricardo Barros para o Ministério da Saúde.
Como já contei em outra matéria, Ricardo Barros chegou para substituir, mas manteve a parceria. Ele é um craque nesse jogo de dubiedades. É um dublê na Câmara com menos talento do que foi Romero Jucá no Senado. Ambos serviram a todos os governos. Assumiram os ônus e ganharam bons bônus.
Tem uma hora que a casa mal construída cai. Ricardo Barros ficou tão poderoso — o fato de ele ser líder do governo na Câmara é o que menos importa nessa equação — que foi um parto para que o nome dele fosse revelado na sessão da CPI. O deputado Luís Miranda demonstrou na CPI ter mais medo dele do que do presidente Bolsonaro.
O que deputado Luís Miranda revelou é motivo suficiente para uma investigação sobre um suposto conluio entre Bolsonaro e Ricardo Barros. Na realidade, foi menos relevante que o seu irmão Luís Ricardo — servidor público concursado do Ministério da Saúde — explicou na tumultuada sessão da CPI. De maneira estritamente técnica, às vezes até difíceis de compreender, ele detonou todas as versões governistas.
Foi tão convincente quanto o motorista Eriberto França na CPI que detonou o então presidente Fernando Collor. Mais uma vez, uma CPI pode por ponto final em um governo.
A conferir.