A presença do Ministro da Economia, Paulo Guedes, ao lado Presidente da República, Jair Bolsonaro, e a ação midiática em uma feira de pássaros de Brasília é uma demonstração de que o comandante da economia está com baixa governabilidade para continuar no cargo.
Paulo Guedes recorreu a um evento público do Presidente da República para que voltasse a ouvir a palavra de Jair Bolsonaro de que está com seu emprego garantido até final de 2022. A aproveitou para justificar o que o levou a cometer a irresponsabilidade fiscal de quebrar o teto de gastos, e tentou explicar que Jair Bolsonaro é popular e não populista ao fixar em R$ 400,00 para o auxilio emergencial por família, o Auxílio Brasil. Se tivesse sido de R$ 600,00, aí, sim, o presidente teria sido populista.
Guedes fez também ataque pessoal aos ex-ministros da Fazenda, Maílson da Nóbrega e Henrique Meirelles, e ao ex-presidente do Banco Central do governo militar de João Figueiredo, Celso Pastore. Os três questionam as medidas econômicas de Guedes, além de inúmeros outros economistas, que o consideram fraco como formulador de política econômica e despreparado para lidar com a gestão da máquina pública.
A impressão que fica para quem estava vendo Bolsonaro e Guedes pela TV, em um lugar com poucas pessoas e alguns jornalistas, é de que a jogada de marketing do Palácio do Planalto foi feita em um domingo com a intenção de acalmar o mercado sobre o comando da economia. Isso explicaria a razão da ausência de repórteres da área econômica e muitos de televisão, como no caso da CNN que só tinha o profissional de imagem. Agora, se a intenção fosse se aproximar da população para justificar a liberação dos recursos orçamentários, o local foi inadequado. A comunicação do Planalto deveria levar Bolsonaro e Guedes à casa de uma família pobre de Brasília com uma cesta de alimentos de R$ 400,00. Os dois ficariam sabendo se de fato aquela cesta de alimentos seria suficiente para passar um mês? É claro, cada um deles levaria uma cesta de alimentos.
Não é problema meu
O que na realidade foi dito na feira dos pássaros por Guedes é que não é dele a responsabilidade sobre a aprovação da reforma administrativa, tributária e controle de gastos no Congresso Nacional. Também não seria dele a responsabilidade final pelas consequências da piora do quadro fiscal, já que dois dias antes ele disse na TV que, a partir de agora, seu colega do Banco Central é quem terá que elevar juros para segurar a inflação.
Ao fim e ao cabo, o todo poderoso ministro da Economia fala mais do que pastor de igreja para convencer o Presidente da República de que ele está certo. Paulo Guedes precisa recuperar sua credibilidade junto aos agentes econômicos de que tem condições de conduzir a economia com alguma previsibilidade, mesmo sem as grandes reformas que prometeu, como a administrativa e a tributária, além das privatizações. O que lhe resta em menos de 12 meses antes das eleições presidenciais é fazer um “feijão com arroz” semelhante ao que criticou do ex-colega Maílson da Nóbrega.