Na noite do domingo (2), Jair Bolsonaro, chorando, interrompeu as férias do cirurgião Antônio Luiz Macedo e família em Bahamas, com um apelo dramático. “Estou morrendo, Macedo. A coisa está ruim”. Seu médico desde o atentado a faca que sofreu em Juiz de Fora na campanha eleitoral de 2018, doutor Macedo o orientou a embarcar logo para ser atendido em São Paulo. Bastou uma sonda ali para desobstruir o intestino, evitar riscos e dispensar cirurgia. Uma boa notícia para todos.
Mas atropelou a máquina de propaganda de Bolsonaro, que divulgou fotos no hospital Vila Nova Star, numa tentativa canhestra de relacionar à facada um problema intestinal atribuído a um camarão engolido sem antes ter sido mastigado. As postagens nas redes do clã Bolsonaro e de sua trupe acompanhada pelo anúncio do próprio Bolsonaro de que, mais uma vez, as investigações sobre a facada em Juiz de Fora serão reabertas, não causaram nenhuma comoção.
Como não colou, coube ao senador Flávio Bolsonaro, o 01, puxar o freio de mão. Disse que o apetite do pai é incontrolável frente a pastel, pizza e churrasco e, pelo que parece, frutos do mar e outras comidas. “Eu não almoço, eu engulo. Tinha uma peixada, uns camarõezinhos. Aí nem mastiguei o peixe, e engoli o camarão”, descreveu o próprio Bolsonaro. O cenário para uma nova sessão de drama se desfez.
Mas se o propósito, como Edna Lima escreveu aqui, foi colocar em segundo plano as criticas à omissão do presidente da República nas tragédias causadas pela chuva na Bahia e em outros estados, e outros fiascos em evidência de seu governo, mais uma vez funcionou. Seria a carta de sempre, com efeito cada vez menos duradouro.
Pano rápido. Mudou o script. Voltou a cena o Bolsonaro de sempre com uma camisa de futebol, lamentando ter perdido mais uma dia de curtição em Santa Catarina, mas confirmando presença em um jogo de futebol, evento beneficiente promovido por cantores da música sertaneja em Buriti Alegre, Goiás. Com covid, Gusttavo Lima, a principal estrela da festa, não compareceu. Bolsonaro deu o pontapé inicial e seu filho Carlos Bolsonaro, o 02, jogou no time de camisa vermelha dos Amigos de Marrone. Carluxo não deve ter apreciado a cor da camisa.
Pelo menos até agora foi o desfecho das férias programadas. Anunciadas em 14 de dezembro, num discurso no lançamento do programa Rodaviva, no Palácio do Planalto. “Vou ter dois períodos de folga esse ano. Cinco dias agora no Natal e cinco dias depois. Não estou reclamando, não. A missão, eu fui atrás dela porque quis. Eu vim candidato porque quis, dei azar, ganhei”, anunciou com a galhofa habitual que encanta seu fã-clube.
Depois de 15 dias de badalação em praias paradisíacas no Guarujá e em Santa Catarina, – em que se exibiu nas redes sociais pilotando jet ski e moto aquática, dançando funk em lancha, passeando de moto, participando de pescaria e até dando cavalos de pau em um carro no parque temático Beto Carreiro – por causa de exageros reconhecidos por sua própria família, Bolsonaro teve de fazer um pit stop em uma hospital 5 estrelas de São Paulo.
Antes de voltar a Brasília, a caminho da confraternização com os sertanejos e jogadores de futebol em Buriti Alegre, todo serelepe tachou de “maldoso quem fala que estou de férias”. Ir ver os novos estragos causados pelas enchentes na Bahia e Maranhão, estados governados por “comunistas”, nem pensar.
Haja cara de pau.