São Paulo, antessala da eleição de 2022

Mais do que decidir quem será o edil da maior cidade da América Latina no próximo quadriênio, a eleição na capital paulista é uma prévia da sucessão presidencial de 2022

O prefeito Bruno Covas em campanha pela reeleição à prefeitura de São Paulo

São Paulo, antessala de 2022. Na reta final da eleição municipal, a disposição das forças em campo já antevê o duelo da sucessão entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador do Estado, João Doria Júnior. A cada dia o cenário das pesquisas deixa claro que o eleitorado vai se transmudando de um lado para outro na faixa de oposição do candidato oficial Bruno Covas. Ou seja: de um lado a base da candidatura tucana na eleição presidencial; do outro lado disputa-se para saber quem será o antagonista que terá o apoio mais ou menos explícito, mas efetivo, do Palácio do Planalto. Vai ser o embate das máquinas, a federal contra a de São Paulo. O choque poderoso dos dois maiores PIBs da América Latina.

Começando a tirar o título de eleitor da gaveta, ainda insuflado pela cobertura inflamada da mídia na eleição norte-americana, o eleitorado paulista ainda está se definindo. Do lado do governador do Estado, não há muitas especulações, pois o panorama é claro. Primeiro, o candidato situacionista é de seu partido, o PSDB, que elimina qualquer constrangimento para Doria botar a máquina a seu serviço. Segundo, estrategicamente, a capital é uma posição essencial a ser mantida, pois constitui sua retaguarda territorial imediata. Muito pior seria entrar na campanha de 2022 com um adversário no Paço Municipal. Por fim: Covas está no segundo turno. Neste ponto, tranquilo. É afiar a espada.

Encruzilhada

Márcio França, candidato do PSB à prefeitura de São Paulo, faz campanha na periferia da capital

Já o presidente Bolsonaro está numa encruzilhada. Não pode ainda saber que tipo de combate terá pela frente, depois do primeiro turno. Claro, com exceção da vitória do tucano em primeiro turno, que é o adversário aberto, os demais poderiam ter alguma ajuda direta ou indireta do capitão. Estes outros três, Celso Russomanno, Márcio França ou Guilherme Boulos, cada qual compõe um cenário diferente. Certo, apenas, é que, seja qual deles for, será melhor para o bolsonarismo que a vitória de Bruno Covas. E mais: nenhum dos três poderá rejeitar o apoio, aberto ou velado, do presidente da República e suas forças heterodoxas, não partidárias.

Jilmar Tatto, candidato do PT, faz caminhada no Jaraguá, na capital dos paulistas

Neste fim de semana, o quadro ainda era confuso. As pesquisas detectavam que Covas e Márcio bebiam no esvaziamento do eleitorado de Russomanno, que perdia fôlego a cada hora. Covas almejando uma vitória no primeiro turno; Márcio querendo chegar à partida final, podendo, com isto, captar o apoio da esquerda derrotada para seu comportado PSB e os votos úteis do bolsonarismo. Entretanto, os tucanos não temem esta possibilidade, mas se assustam com um possível acordão, nesta próxima semana, entre PT e Boulos. Nesse formato, retira-se ou se esfria a candidatura de Jilmar Tatto e o PT se concentra na formação de bancada.

Guilherme Boulos, candidato do PSOL, na Vila Julieta, em São Paulo

O candidato do PSOL, por sua configuração de oposição aberta ao governador, pode ser a surpresa. Não esquecer que tem como companheira de chapa a ex-prefeita e atual deputada federal Luiza Erundina, que já pegou uma peça nos tucanos e na direita malufista no passado. Ela está andando de “Luizamóvel” pelos subúrbios da capital, uma área em que, se a cabeça de chapa não tem muitos adeptos, ela pode atrair eleitores de origem nordestina. (O eleitorado de Boulos se concentra nos Jardins, bairros da classe média alta e escolarizados). Se o adversário de Covas for o líder sem-teto, os votos da direita disciplinada podem, discretamente, escorregar para Boulos, tipo evangélicos, bancada da bala, segmentos ruralistas e outros de cunho ideológico fiéis à determinação do presidente. Pior que Boulos, para os ideológicos, é Doria inflado.

Cavalo paraguaio

Russomanno tem o apoio de Jair Bolsonaro para se tornar o próximo prefeito de São Paulo

O candidato declarado do presidente é Russomanno. Entretanto, o deputado vem patinando, no mesmo ritmo de suas candidaturas anteriores, quando arrancava na frente e ia perdendo fôlego. Seus adversários, jocosamente, o chamam de ”cavalo paraguaio” (uma alusão ao esgotamento físico da cavalaria paraguaia, desnutrida, na Batalha de Tuiuti (24/05/1866), quando, mesmo muito mais numerosa, foi atropelada pela cavalaria brasileira do general Antônio de Souza Neto, montada em cavalos amilhados).

O presidente declarou apoio ao candidato, mas não cevou a chapa de seu aliado. Ou seja: Bolsonaro espera para ver até onde Russomanno chega com suas próprias pernas. Caso alcance o segundo turno, então ele entrará de peito aberto na campanha, já em enfrentamento direto com o governador João Doria. Mas antes o parlamentar tem de mostrar suas cartas. Esta é uma situação única, pois nas demais capitais não há perspectiva de confronto direto do presidente com seus adversários locais. São Paulo é a antessala de 2022.

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