Os perigos para o presidente Jair Bolsonaro seriam seus acertos, e não seus erros. Isto também se falava do ex-presidente Fernando Collor.
É voz corrente que caiu pelas coisas certas que teria feito, projetos de alta periculosidade política, tais como enfrentar os monopólios das reservas de mercado da iniciativa privada (indústrias automobilísticas, cimenteira etc.) ou, pior de tudo, atacar de frente as corporações que dominam o setor público brasileiro.
Collor já entrou trombando com as corporações de servidores dos três poderes. Mandou demitir mais de 200 mil e infernizou a vida dos funcionários fantasmas (que chegaram a fazer passeata, no Rio, contra ele – uma manifestação de ectoplasmas?).
Seus marqueteiros criaram um bordão, o marajá, aquele potentado indiano, com o corpo coberto de diamantes e pedras preciosas (uma telenovela da época evocava essa figura de nababo oriental). Este seria o estereótipo do servidor brasileiro.
Fácil de entender. Pegou como uma figurinha. Levou Fernando Collor ao Palácio do Planalto.
Nos dias de hoje, o novo presidente apresenta esses super-assalariados, grande parte deles inativos, como os algozes do erário. Estão sendo chamados de “privilegiados”.
Mas é só mais do mesmo; falar mal de funcionário dá voto, o povo gosta disso. Difícil é passar por essa muralha invisível do poder de “classe” dos servidores.
Jogo muito duro, tanto que o presidente já está fraquejando e tentando dar passos atrás, o que só não ocorreu, como no caso dos policiais federais, porque a Câmara travou. Quem diria! Normalmente eram os deputados que pulavam fora deixando o executivo na chuva. Novos tempos.
O primeiro chefe de governo brasileiro que caiu por bater de frente com essas forças ocultas (como as denominou o ex-presidente Jânio quadros) foi o patriarca da independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, demitido pelo imperador quando atacou os rentistas, palavra que voltou ao uso, como o Andrada denominava aqueles que vivem de aplicações financeiras, mamando nas tetas da dívida pública. Esse modelo não é de hoje, vem de longe.
É a maldição da previdência pública. Lembramos de Collor, mas não podemos esquecer de Michel Temer, que foi esterilizado quando já estava com a reforma tão avançada que, poder-se-ia dizer, já estaria com a nova lei em cima da mesa e a caneta na mão para promulgar, quando levou uma rasteira e recuou para trás da linha da bola, esperando o apito final.
Agora também Bolsonaro parece assustado. Quer dar um passo atrás.
Está na obrigação, pois ao sentar cadeira presidencial exibindo sua caneta bic, falou tão duro, foi tão macho, que está difícil recuar. Foi levado de roldão pela onda, pois o presidente da Câmara e seus deputados estão com pressa.
Não vão deixar a peteca cair. Se protelarem para depois do recesso, como propõem forças políticas ligadas aos interesses contrariados, reunindo, numa frente informal, forças antagônicas, que vão da extrema esquerda à extrema direita, a casa cai. Impressionante o Brasil: quem esperava ver que seriam os parlamentares a segurar a peteca.
As pesquisas são claras: a reforma da previdência tem apoio popular. Isto se deve à campanha do presidente. O parlamento embarcou na canoa e agora não quer deixar o homem saltar fora do barco.
Também Bolsonaro e Lula estão empatados. As pesquisas divulgadas nesta segunda feira mostram bem o quadro: 33 por cento a favor do presidente, e os mesmos 33 por cento contra, ou seja, a favor do prisioneiro de Curitiba.
Direita e esquerda empatadas. No meio, com números equivalentes (31%) aquela massa informe, volúvel, antigamente chamada de “maioria silenciosa”, que, sem lado nem partido, votou em Bolsonaro para presidente para tirar o PT do governo.
Assim como foi para um lado, pode ir para o outro. É com o que contam os postulantes de olho na cadeira do mandatário.
Se quer continuar morando no Palácio da Alvorada em 2022, o capitão deve botar as barbas de molho.