Não chega a ser uma novidade o envolvimento do ex-ministro pastor Milton Ribeiro no escândalo de cobrança de propinas no MEC por colegas evangélicos que lhe foram indicados pelo presidente Jair Bolsonaro. Mas sua prisão, nesta manhã, tem forte impacto político. O mais óbvio, fulminar de vez um dos carros-chefes do discurso eleitoral de Bolsonaro de que não houve corrupção em seu governo.
Bolsonaro perde de forma irremediável as condições para executar uma das principais estratégias de sua campanha, que era apontar corrupção no PT e em Lula e tentar posar de honesto. A situação se inverte, e temos agora um ex-presidente inocentado nas altas instâncias da Justiça e um adversário cujo governo está sendo investigado e teve um ministro preso.
Não se sabe o que Milton Ribeiro preso poderá dizer e nem qual será o curso e o alcance das investigações sobre o Planalto. A cem dias das investigações, nitroglicerina pura – que pode inclusive levar Bolsonaro a perder votos entre os evangélicos.
Mas o significado político-institucional da operação de hoje é ate mais importante do que sei impacto eleitoral. Um dia depois de o ministro da Justiça, Anderson Torres, instrumentalizar a Polícia Federal enviando ofício ao TSE avisando que ela fará uma apuração paralela da eleição, a instituição dá um aviso claro aos navegantes: não foi totalmente cooptada pelo governo Bolsonaro e está, no mínimo, dividida. Em outras palavras: a PF independente não vai entrar de cabeça no golpe.