Os economistas costumam usar imagens para tentar convencer as pessoas do que não conseguem explicar com seus conhecimentos teóricos.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse a empresários do Fórum de Investimentos Brasil 2019 que “não tem voo de galinha na economia brasileira, não tem crescimento artificial”, tentando passar a ideia de que as duras medidas de contração fiscal que está adotando resultarão em crescimento sustentável. O voo de galinha na linguagem dos economistas é um crescimento que não se sustenta ao longo do tempo.
Investidor gosta disso. Quer segurança de retorno de seus investimentos no longo prazo.
Ciclos econômicos
A realidade é que a economia do Brasil desde a ocupação pelas companhias hereditárias sempre teve ciclos de crescimento semelhantes ao voo de galinha por falta de capital de investimento e concentração de renda.
A economia do Brasil vive de voo de galinha. É assim que chegamos até aqui.
O livro a “Historia da Riqueza do Brasil”, de Jorge Caldeira, nos oferece informações, análise com base em dados sustentáveis para entender como nossa economia se movimentou em solavancos nos ciclos da madeira, açúcar, ouro, algodão, borracha, café, entre outros.
A maior parte da riqueza gerada nestes ciclos foi apropriada por poucos empresários nacionais e a banca internacional, que sempre esteve por trás das operações de financiamento. A maioria do povo, como aponta Caldeira, fora deste processo, se defendeu na economia informal.
Toma, é com vocês
Paulo Guedes disse aos investidores que a reforma da previdência é o primeiro pilar para a retomada do crescimento sustentável da economia dentro de uma política de ajuste fiscal. E jogou no colo deles a tarefa de fazer a economia crescer.
“Crescimento sustentável é coordenado pelo setor privado, com crédito e fluxo privado, sem subsídios públicos. Não tem voo de galinha na economia brasileira, não tem crescimento artificial”, disse.
Neste aspecto, Guedes está certo. O setor privado deve ter o protagonismo da retomada do crescimento, pois o desequilíbrio das contas públicas tirou do governo possibilidades de injetar recursos na economia. Guedes diz que, das receitas obtidas, cerca de 94% das despesas são obrigatórias, sem falar no desembolso com juros da dívida, que consome os recursos públicos.
“Por isso, precisamos desmobilizar ativos, reequilibrar as contas públicas e retomar investimentos, que já foram de até 25% do PIB e caíram para quase 1% nos últimos cinco anos”, disse Guedes, jogando uma esperança de que o governo poderá ser um parceiro no esforço de crescimento sustentável no futuro.
Antecipar-se às crises
A realidade é que o voo de galinha é consequência das crises constantes do sistema capitalista. De tempos tempos, o processo de crescimento da economia precisa de ajustes em função de desequilíbrios fiscais de governos, de inflação, desemprego, entre outros fatores .
O que a maioria dos países faz é entender os fatores que provocam as crises e se antecipar com medidas de estímulo ao crescimento para sustentar a galinha mais tempo no ar. As crises nos modelos econômicos têm sido cada vez frequentes, mas de curta duração em função da antecipação dos agentes econômicos.
A Europa, neste momento, está entrando em um processo de desaquecimento da economia e para evitar que se prolongue muito tempo vários países já praticam taxas de juros negativas.
Donald Trump, que já começou a ver sinais de enfraquecimento econômico dos Estados Unidos, anunciou na sexta-feira a intenção de fazer um entendimento com a China para evitar danos de crescimento da sua economia em ano de eleição.
Estímulo estatal
Paulo Guedes tem razão de buscar equilíbrio fiscal nas contas públicas, melhorar o ambiente de negócios e estimular o setor privado a liderar o processo de retomada dos investimentos. Mas ignorar ações de estímulo ao crescimento que estão a sua mão é desconhecer o papel histórico do governo na economia do País.
Qualquer retomada de crescimento, mesmo que seja voo de galinha, no mínimo a União teria um ganho imediato de arrecadação e ajudaria a reduzir o déficit público. Este crescimento contribuiria para ampliação dos negócios, aumento do consumo e redução na fila dos milhões de desempregos.
Com a melhora de renda em um ambiente de inflação baixa e tendência de queda de juros haveria um fortalecimento do mercado interno do Brasil, que é o que podemos contar para crescer em função do ambiente de desaquecimento da economia global. Tudo indica que é mais fácil fazer os ajustes com economia em “voo de galinha” do que em solo como está agora sem qualquer força para reagir.
Os dados indicam que o Brasil deve crescer este ano em torno de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB), muito abaixo do seu potencial de crescimento. Em grande parte, pelo corte de gastos públicos e de investimentos públicos.