As duas grandes lideranças políticas do País estão boiando à deriva. Nem o presidente Jair Bolsonaro, nem seu antecessor Lula da Silva estão conseguindo posicionar seus seguidores para o desafio eleitoral. A pouco mais de quatro meses do pleito, o presidente da República está sem partido para apresentar e registrar seus candidatos, e o fundador do PT não consegue colocar seu partido na ponta dos cascos para a competição.
Para um falta estruturas legais para registrar chapas; para o outro há carência de líderes com apetite para enfrentar de novo a paçoca dos aguerridos direitistas. Nessas condições, preferem botar a moçada na rua. Assim, as sucessões municipais, que são o obstáculo imediato à frente, parecem pano de fundo lateral no cenário político destes dias. Um quadro estranho na paisagem.
Passeatas com protestos e vivas não falam de nomes nem de projetos para cidades, grandes ou pequenas. Em vez de milhares de candidatos se apresentando nas redes, nas mídias e nas ruas pedindo votos, o que se vê são cartazes e palavras de ordem a favor e, mais recentemente, contra o presidente da República. Ninguém fala de buraco de rua. Só agitam questões nacionais.
Do um lado e outro a mesma coisa. Uma parte da oposição, liderada pelo PT, também está concentrando a sua mobilização política nas ruas, pedindo a deposição do presidente Jair Bolsonaro nos moldes de outras campanhas anteriores (Fora FHC) e condenação do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A eleição municipal, dizem, é menor, não tem importância, devendo concentrar-se na disputa nacional de 2022. É a primeira vez na história deste país que o partido com maior bancada nacional na Câmara dos Deputados despreza uma eleição. Novo normal?
Essa é uma situação singular, dizem analistas. O presidente Bolsonaro, já em campanha para reeleição em 2022, não pode deixar seu capital eleitoral nas grandes capitais escapulirem como água por entre os dedos das mãos. Seu desempenho deve confirmar as vitórias esmagadoras em algumas das principais cidades do País em 2018: 67,97% contra 32,03% de Fernando Haddad em São Paulo; 66,35% contra 33, 65% no Rio; 65, 59% contra 34,41% em Belo Horizonte; 56,85% contra 43,15% em Porto Alegre.
Com esse desempenho, ele chega a julho, data de realização das convenções partidárias, sem saber que candidatos apoiar, pois não tendo partido próprio depende de acordos e coligações. Quais serão seus nomes? Em 2018, ele já provou que transfere votos. Isto vale muito neste momento.
O ex-presidente Lula da Silva, para manter o PT como primeira força partidária, precisa de resultados. Ele chamou atenção das direções petistas, nesta semana, para a necessidade de se posicionarem em campo o quanto antes. Sem ânimo, os dirigentes do partido estão dizendo que devem se concentrar na sucessão presidencial, deixando para lá as eleições municipais. Lula discorda, lembrando que o partido tem prefeitos ou participação efetiva (com vice-prefeitos ou acordos formais) em 220 municípios. São territórios a serem mantidos.
Na prática, Bolsonaro está numa situação embaraçosa, pois rompeu com seus antigos aliados nos grandes colégios eleitorais, como Wilson Witzel, no Rio, João Doria, em São Paulo. E não pode confiar na parceria com Romeu Zema, em Minas, e Nelson Marchezan, em Porto Alegre. Talvez um único acordo à vista seja com o prefeito do Rio, candidato à reeleição, bispo Marcelo Crivella, devido à afinidade pentecostal.
O mesmo acontece com o ex-presidente Lula. Os grandes nomes do PT, como o professor Haddad, de São Paulo, ou o senador Jaques Wagner, na Bahia, não se dispõem a concorrer. No Rio, a ex-governadora Benedita da Silva já foi lançada, protegida por um mandato de deputada federal que lhe garante continuidade parlamentar em caso de derrota. Embora em Salvador, em 2018, tivesse vencido com 68,59% dos votos contra 31,41% de Bolsonaro. Embora Haddad tenha ganho no Nordeste, o racha na oposição pode abalar a hegemonia petista nessa região.
Nessa situação, melhor ir para a rua gritar contra os adversários. Os bolsonaristas vociferando contra o comunismo. Os petistas gritando contra o presidente da República em desfiles comportados, usando máscaras e guardando distância, como pede a nota de convocação da presidente Gleisi Hoffmann, afastados dos quebra-quebra dos black blocs. Muito otimismo.