Pouco menos de um mês após deixar do governo, os esqueletos do bolsonarismo começam a sair dos armários. E são muitos. Primeiro foi a tentativa de golpe do dia 8. Embora o plano tenha dado errado (graças a Deus), ficou a certeza de que foi inoculada nas Forças Armadas e nas polícias militares a semente do golpismo. Se não for duramente combatida há o risco de que a democracia brasileira enfrente novos problemas futuramente.
Após a intervenção federal na segurança pública do DF, o afastamento do governador Ibaneis Rocha do cargo por determinação judicial, a prisão do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, e a demissão do Comandante do Exército, as coisas começaram a se normalizar. Mesmo assim, o ministro Flávio Dino, da Justiça, apresentou um pacote de medidas para ampliar a segurança na Esplanada dos Ministérios e evitar novas invasões. Entre as propostas, estão a polêmica criação de uma Guarda Nacional e regras para a retirada de conteúdos antidemocráticos do ar em no máximo duas horas, inspiradas em decisões do TSE na reta final das eleições.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, que durante sua gestão sempre protegeu Bolsonaro, encaminhou pedido ao STF para investiga-lo por instigação e autoria intelectual dos ataques às sedes dos Três Poderes. Claro que o pedido foi aceito pelo ministro Alexandre de Moraes.
Outro esqueleto retirado do armário foi a quebra do sigilo dos gastos com cartão corporativo de Bolsonaro na Presidência da República. Embora não tenha sido o presidente que mais gastou, chamam atenção algumas exorbitantes despesas especialmente com alimentação e abastecimento de combustível em dias que o ex-presidente participou de motociatas.
Pelos altos valores gastos, há suspeita de que o cartão corporativo teria sido usado não só para os gastos da equipe presidencial, como argumentou Bolsonaro, mas para fornecer lanches e combustível para os apoiadores que participaram das motociatas. Se for essa hipótese for confirmada, juristas indicam que Bolsonaro pode ser enquadrado no crime de peculato (desvio de dinheiro público). Mais um na lista.
E por falar em cartão corporativo, o jornalista Rodrigo Rangel, do portal Metrópoles, publicou em sua coluna essa semana notícia dando conta da existência de um possível “caixa 2” de Bolsonaro dentro do Planalto, com saques e pagamentos em espécie. O material já está em poder do ministro Alexandre de Moraes. Os dados estão sendo analisados a partir da quebra do sigilo do tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordem de Bolsonaro. Uma encrenca e tanto.
Por fim, o esqueleto que mais revoltou a população brasileira: o descaso e abandono do governo em relação ao povo Ianomâmi. As imagens de crianças e adultos esquálidos, morrendo e fome e de malária, chocaram o mundo e podem levar o ex-presidente a ser julgado dentro e fora do Brasil pelo crime de genocídio.
A pedido do ministro da Justiça foi aberta uma investigação pela Polícia Federal para apurar as responsabilidades e se houve ou não genocídio. Para complicar ainda mais a situação de Bolsonaro, o Supremo emitiu nota nesta quinta-feira (26) informando que foi detectado o descumprimento de determinações judiciais e que há indícios de prestação de informações falsas do governo à Justiça sobre a situação do povo Ianomâmi. Mais dois crimes na longa lista.
Desde a pandemia, em 2020, o STF proferiu decisões determinando à União e a entidades federais uma série de providências em favor dos Ianomâmis, entre elas a execução de um plano de enfrentamento à covid especificamente para os indígenas, que contemplasse medidas de segurança alimentar, atenção à saúde, criação de barreiras sanitárias e prioridade de vacinação. Nada disso foi feito.
Agora, essa trágica conta começa a ser cobrada.