Quem conhece de perto o procurador-geral da República, Augusto Aras, avalia que ele não vai gastar agora seu cacife em troca de uma promessa futura de Jair Bolsonaro de uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Nem é pela má barganha de entregar uma encomenda à vista em troca de uma duvidosa promessa de pagamento no final do ano. Ele tem tempo de mandato para se resguardar e não atropelar as investigações e se desgastar dentro e fora de sua instituição. Pode preservar seu cacife e deixar o jogo rolar para por as cartas na mesa no momento que lhe for mais oportuno.
De acordo com uma dessas fontes, ser ministro do STF é uma ambição legítima de Aras. Como Sérgio Moro, ele também sonha com essa vaga. Mas ele tem um limite para brigar contra os fatos. Me disse ser difícil avaliar sem assistir ao vídeo da reunião ministerial de 22 de abril ou do que for apurado na sequência das investigações. “Se as provas forem efetivas, ele denuncia. Ele sabe que, nesse caso, troca a vaga no STF pra entrar na história”.
Bolsonaro finge não enxergar isso. Ele trata as instituições da República como feudos. Insiste em eufemismos na vã tentativa de enganar fanáticos e incautos. Ele está tonto por suas ameaças, gravadas em vídeo em reunião ministerial, estarem sob a investigação comandada pelo decano do STF Celso de Mello. Por mais que tente amenizar, consta ali uma clara confissão.
O fato é que Bolsonaro ficou pela bola sete por suas insanas e insistentes tentativas de fazer da Superintendência da PF uma milícia para chamar de sua no Rio de Janeiro. Seu estrategista nessa maluquice é o filho e vereador Carlos Bolsonaro. Seus receios, além dos mensalinhos da família nas rachadinhas, é a exposição dos filhos nas investigações sobre as milícias no Rio. Pelo que dizem investigadores, queriam mais, inclusive bisbilhotar adversários como o governador Wilson Witzel.
É falsa sua alegação de que, por causa do atentado que, em 2018, sofreu em Juiz de Fora durante a campanha eleitoral, quis agora trocar a chefia da PF, o seu comando em Brasília e pagar o preço da demissão de Sérgio Moro, seu mais popular ministro, para assegurar a segurança de seus filhos. A mentira é deslavada porque a PF não tem nada a ver com isso. E mais: pelo que ouvi de fontes militares, o presidente e sua família, até por sua paranoia, são os mais protegidos pelo Gabinete de Segurança Institucional pelo menos desde a volta da redemocratização no país.
A proteção que Bolsonaro quer de fato para seu clã é a impunidade. É a polícia, o ministério público e a Justiça fingirem que não existiram rachadinhas, ligações com milícias, patrocínio de esquemas de fake news… Quer trocar isso por uma vaga futura no STF. Com Moro não deu certo. Tenta de novo com Aras. Mas também não confia.
Joga promessas de campanha na lata do lixo e tenta um Plano C indo ao velho balcão dos partidos do Centrão para comprar apoios e barrar investigações e até o impeachment. Como os ex-presidentes Dilma Rousseff e Fernando Collor aprenderam na queda, o Centrão costuma cobrar à vista mas depende das circunstâncias para entregar a encomenda. Michel Temer, que conseguiu saciar esse apetite, foi uma exceção.
A conferir.