Cobri a cerimônia de fundação do PSDB, em 25 de junho de 1988, apesar da barriga de quase nove meses de gravidez. Politicamente, nunca fui tucana, nem então e nem depois, mas a sensação que tive, ao ver Mário Covas, Fernando Henrique, José Serra e outros criando um partido para se diferenciar do MDB engolido pelo quercismo, era de que algo positivo, no rumo de uma renovação política, estava saindo dali.
Trinta e três anos depois – a idade do meu caçula Carlos – assistimos ao fim do PSDB – talvez não como legenda, mas como ideia. É certo que o processo de degradação política do ninho tucano começou há tempos, de forma mais grave no papel desempenhado na origem do processo que levou ao impeachment de uma presidente que ganhou por pouco de seu candidato. A ideia infeliz do tapetão de Aécio Neves deu no que deu, e quem pagou foi o Brasil.
Mas o esgarçamento final das palhas do ninho, que agora não seguram mais ninguém, foi a prévia desta domingo, suspensa (?) num deprimente espetáculo de vexaminosa incompetência e, principalmente, em meio à demonstração de que, dali, não sairá um candidatura com um mínimo de coesão e, portanto, viabilidade. Outros partidos amanheceram nesta segunda-feira com estilingue e rede nas mãos, na maior caça de tucanos já ocorrida no Brasil.
Do Podemos do neocandidato Sergio Moro, ao PL de Valdemar Costa Neto e agora, ao que parece, de Jair Bolsonaro, todo mundo quer um tucano para chamar de seu. E é possível que consigam, em meio à indefinição e à guerra interna -a começar por um dos últimos caciques daqueles velhos tempos, o correto ex-governador Geraldo Alckmin, cujo coração balança entre o PSD e o PSB.
É o último retoque no retrato da decadência: o PSDB que nasceu de Mario Covas está sendo enterrado pelas mãos de João Doria.