O presidente Jair Bolsonaro arrota valentia em um mundinho de fantasias reproduzido por sua máquina de espalhar fake news. É nessa seara que aposta tornar crível suas mentiras sobre todos seus fracassos de gestão como no combate à inflação — carestia dos alimentos, gasolina, diesel, luz, gás de cozinha, entre outros fora de qualquer controle.
Com a maior cara de pau, alega que não tem nada a ver com nada. Diz que a inflação, por exemplo, é problema do Banco Central, hoje formalmente independente. E até sugere que tem palpitado com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, pra não apostar tanto no aumento da taxa de juros para segurar o aumento dos preços. Conta isso como se fosse uma conversa de botequim com a velha ressalva de que é um zero à esquerda em economia. É a mesma prosa que usa e abusa para enquadrar o ministro Paulo Guedes, na cantilena que afunda cada vez mais a economia do país.
Esse, digamos, chutômetro, agravou o descontrole de preços nos combustíveis em geral, puxados por uma política da Petrobras aplaudida pelo mercado financeiro. Em vez de encarar os problemas, Bolsonaro, como sempre, os transfere para outréns. Conseguiu a oportunista adesão do deputado Artur Lira, presidente da Câmara, para vender o peixe de que a culpa é dos intermediários e, principalmente, dos impostos estaduais. Apostam em propostas legislativas que revertam o suposto abusos dos estados.
Se tiverem algum razão, podem até conseguir mudanças em um jogo limpo e aberto, mas com todas as cartas na mesa. Batem de frente com duas outras avaliações diametralmente opostas. Todos analistas e consultores de energia ligados ao mercado dizem que, por mais que doam, as políticas de preços da Petrobras e da energia em geral estão corretas. Por essa ótica, outras alternativas seriam artificiais e acabaram custando mais caro.
Nessa quarta-feira (29), a Federação Única dos Petroleiros apresentou uma versão completamente diferente sob o argumento de que “o verdadeiro culpado pelos sucessivos reajustes dos combustíveis é a política de preço de paridade de importação (PPI), adotada pela gestão da Petrobras, que se baseia nas cotações internacionais do petróleo, na variação do dólar e nos custos de importação, sem levar em conta que o Brasil produz internamente cerca de 90% do petróleo que consome”.
Segundo o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, “não adianta o jogo de empurra em busca de responsáveis pela alta dos derivados. O ICMS e as margens de distribuidoras e postos são percentuais cobrados sobre o preço na refinaria, quando a Petrobrás sobe, tudo isso sobe. É uma questão de fazer contas, pois a participação da Petrobrás nos preços dos combustíveis, nas refinarias, vem aumentando desde a implantação do PPI, em 2016. Era de 30% no preço do litro da gasolina, hoje é de 33,4%; no diesel, passou de 48% para 52,1%; e no GLP, saiu de 23% para atuais 47,5%. A participação dos impostos foi mantida a mesma neste período, enquanto a participação da Petrobrás cresceu”.
O governo Bolsonaro não quer ou não consegue mediar esse tipo de bola dividida. É o mesmo problema nas gestões sobre Educação, Cultura, Meio Ambiente e Saúde. A pandemia é o exemplo clássico dessa omissão. A tentativa em tempo integral de transferir o descaso e a incompetência para estados e municípios teve como objetivo encobrir mais do que desleixos, a penca de crimes expostos pela eficaz apuração da CPI da Pandemia.
Os crimes de Bolsonaro e sua má gestão são públicos e notórios.
Quando vão ser punidos?
A conferir.