Por Silvestre Gorgulho
Brasília não dormiu naquela noite de domingo.
23 de agosto de 1976 – Os brasilienses lotaram o aeroporto da Capital para esperar o corpo de Juscelino Kubitschek. O Fundador, que visitava Brasília às escondidas, foi recebido com palmas, gritos, discursos e de peito aberto pela multidão. Pura emoção.
JK falecera na véspera, em um acidente com seu automóvel Chevrolet Opala próximo à cidade de Resende, na Rodovia Presidente Dutra, quando seguia de São Paulo para o Rio. Juscelino completaria 74 anos dias depois, em, 12 de setembro. No mesmo desastre também morreu o motorista Geraldo Ribeiro. O fato é até hoje cercado de mistério.
O povo acompanhou o cortejo fúnebre até a Catedral. Mas depois — sim, depois –, os brasilienses tiveram a ousadia de tirar o caixão do caminhão do Corpo de Bombeiros para levá-lo nos braços até o cemitério. (Eu vi, pois estava do lado)
E, mais tarde, no Cemitério Campo Esperança, quase à meia noite, a ex-primeira dama, Dona Sarah, teve que subir num banco para pedir que o povo deixasse enterrar seu marido. O povo não queria se desgrudar dele. Nesse dia Brasília criou alma. Os brasilienses fizeram um pacto:
– Vai JK. Nós vamos cuidar de você eternamente. Você foi, é e será sempre exemplo para nosso País. Viva Juscelino!
42 ANOS SEM JK – Cada um é curador de sua própria história, da história de sua família e de sua Pátria. Na minha curadoria pessoal, gosto de dividir a História do Brasil em três grandes momentos: o Descobrimento (1500); a vinda da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro (1808) e o governo de JK (1956-1961).
O Presidente Juscelino, a seu modo, sacudiu a vida administrativa, política e cultural do Brasil. Kubitschek construiu hidrelétricas, abriu estradas, plantou bom humor e assumiu compromissos: cumpriu todas as 31 metas prometidas durante sua campanha à Presidência da República. JK plantou a indústria automobilística e magnanimidade. Perdoou revoltosos e inimigos políticos. JK criou Brasília.
O Brasil colheu um novo País do Centro-Oeste, do Cerrado e da Amazônia. O Brasil colheu efervescência cultural. O Brasil colheu a Primeira Copa do Mundo, colheu Bossa Nova e colheu alegria. O povo brasileiro colheu o sentimento de que é capaz construir o que parece impossível.
JK plantou democracia. E o Brasil colheu Paz! JK plantou sonhos e esperanças, mas também colheu perseguição política, cassação, o exílio e, sem talvez, colheu também a morte.