Jair Bolsonaro, escorraçado dos quartéis em 1988, tem mostrado ser incompetente e mal intencionado. Empilha fiascos em todas a áreas e, por isso, busca se proteger da ruína na fortificação do “braço forte, mão amiga” e aposta na solidariedade verde-oliva para delirantes quarteladas. Para toda crise – são inúmeras – ele tem a trapaça padrão da vassalagem fardada: generalizar.
Onde tem caos tem general ou vice-versa. Nomear general foi a opção sepulcral no Ministério da Saúde, na intervenção caótica da Petrobrás, na oficialização do escambo fisiológico dentro Casa Civil, no Gabinete de insegurança Institucional entre outros. A militarização de cargos civis, típica do nazismo, ameaça alcançar a sentinela milionária da Secretaria de Comunicação, com a escolha de um almirante, mais alta patente da Marinha, equivalente ao generalato. O movimento lembra o famigerado DIP, tocado por militares que, no Brasil, são novamente sinônimos da morte do próprio povo.
Na ditadura do Estado Novo, em dezembro de 1939, Getúlio Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda, responsável por difundir a ideologia do regime por intermédio da propaganda e também por operar a censura. Tornou-se um órgão de restrição da liberdade de imprensa e do culto à personalidade de Vargas, manufaturando notícias. As verbas publicitárias centralizadas corrompiam os veículos domesticados e estrangulavam adversários. O “Estado de São Paulo” e outros periódicos sofreram intervenções.
A ascensão de um militar para a cidadela da comunicação é um gesto eloquente do reforço da barricada contra a mídia, baseada em xingamentos, intimidações, ameaças físicas e de fechamento de jornais, além de medidas para asfixiar financeiramente os veículos de comunicação não alinhados.
Os coturnos já são desenvoltos em outros acampamentos da subserviência. Alguns milhares de quepes gananciosos (6 mil cargos conforme o TCU) rebaixaram suas patentes e/ou dignidade por uma merreca a mais, aviltando a Nação agonizante à qual juraram lealdade. As estrelas militares mais visíveis da anarquia gerencial do Brasil são as mais foscas, as mais toscas.
Eduardo Pazuello é o símbolo maior da generalização do caos e da universalização da entropia. A continência ao obscurantismo condenou esse sobrenome à infâmia. Ele irá responder eternamente pelo morticínio de brasileiros sacrificados ante a inépcia fardada. Até hoje politiza a vacinação (agora é a pfeizer) porque “obedece” àquele que chama de “idiota” quem exige a aquisição dos imunizantes. É a personificação do general franquista Millán-Astray a vociferar “viva a morte”.
Temos cloroquina para 18 anos, testes vencendo, mas milhões de vacinas eficazes e seguras foram desprezadas há 7 meses e a imunização dos brasileiros é a conta-gotas, descontinuada e mortal. Pazuello opera a logística do caos e embaralha até a simples remessa dos escassos imunizantes para os estados, trocando as doses do Amazonas pelo Amapá. As siglas podem ter ocasionado a confusão: AM e AP, tudo a ver. Afinal ele não entende de história, de saúde, nem de clima, nem geografia.
Além do genocídio, o Brasil pode se tornar uma granada biológica de ameaça global. Somos indesejados em todo mundo e isso pode evoluir para uma espécie de apartheid sanitário. Corremos o risco de sofrer boicotes comerciais de todo planeta contra nossos produtos. Uma ilha abandonada da repulsa mundial.
Outras fortificações da Saúde também estão sob a tutela militar. O secretário de Atenção Especializada à Saúde, coronel Luiz Otávio Franco Duarte, despachou no ano passado uma ordem unida para uso da cloroquina, rechaçada reiteradas vezes pela ciência e autoridades mundiais de saúde. Charlatanismo, curandeirismo e exercício ilegal da medicina ainda estão no Código Penal e o MP silencia indulgente. O coronel foi infectado pela Covid-19 no colapso de Manaus, onde faltou oxigênio e a crise fugiu ao controle, como está acontecendo em todo o Brasil. Até a Fiocruz foi contratada com recursos públicos para produzir 4 milhões de doses da cloroquina destinadas a pacientes com Covid-19. O maior fabricante do mundo do medicamento também recebeu dinheiro do BNDEs.
Documentos oficiais desmentem Pazuello de que sua estrebaria não incentivou o “tratamento precoce”. A generalização do caos também abateu a Petrobrás. Após uma birra com o presidente Roberto Castello Branco, Bolsonaro o demitiu. Até o uso da máscara facial no Palácio do Planalto, obrigatório na capital, teria irritado o ogro negacionista. O proselitismo derreteu em 5 dias o valor da empresa no mercado, algo em torno de R$ 100 bi. A interferência de Bolsonaro na política de preços dos combustíveis e o trote populista promoveram um outro general, Joaquim Silva e Luna. A intervenção sepultou o falso liberalismo e escancarou a traficância de informações privilegiadas para o mercado faturar com as ações da Petrobrás. Paulo Guedes, padrinho de Castello Branco e general no mercado, virou um recruta ridicularizado. O estrago de Bolsonaro foi para mostrar que não é um presidente “banana” e fidelizar sua base eleitoral de caminhoneiros. Eles ajudaram a derrubar Salvador Allende no Chile.
No meio da crise o ainda presidente Castello Branco divulgou o balanço da empresa com um lucro de R$ 7,1 bilhões em 2020. O lucro ficou só ficou abaixo do recorde de 2019, primeiro ano do economista no comando da estatal e muito acima das estimativas do mercado. Os resultados anunciados mostram uma administração lucrativa à frente da Petrobrás, mesmo em 11 meses de teletrabalho, reprovado pelo capitão. A nova disciplina do quartel é punir a competência. O estrelado general que chega é mais um na galáxia do apagão gerencial e não ostenta as divisas mínimas exigidas em lei para o cargo. No setor, ele é cru como o óleo. Houve uma debandada no Conselho da estatal contra o abacaxi fardado, se antecipando às futuras ações judiciais.
O general de pantufas, Augusto Heleno, é o retrato empalidecido da política da generalização. Heleno manda no Gabinete de insegurança Institucional. Sob sua vigilância o avião presidencial foi usado para traficar 37 kg de cocaína para a Espanha. Augusto também foi autor da nota intimidatória após o STF ameaçar apreender o celular de Bolsonaro. Voltou atrás dizendo que não disse o que disse. Também é apontado como participante de uma reunião de um órgão de Estado para blindar o senador Flávio Bolsonaro na investigação por crime de peculato e escudou Eduardo Bolsonaro após o deputado defender a volta do AI-5.
Uma babá institucional, aparentemente ociosa. A desinibição na festa do pijama extrapolou no depoimento biográfico do general Villas Bôas, que assumiu uma pressão ilegítima sobre STF. Exalando naftalina e toxinas, o ex-comandante do Exército narrou uma versão, segundo a qual, em abril de 2018, o Alto Comando teria tramado postagens com ameaças a Suprema Corte para não conceder um habeas corpus que poderia ter impedido a farsa da prisão do ex-Presidente Lula. A prisão se consumou por 6×5 votos e Lula foi riscado da cédula eleitoral, abrindo a trincheira do fascismo. O presidente do STF, Luiz Fux, disse ter uma mensagem do ministro da Defesa desmentindo Villas Bôas: “foi declaração isolada do ministro Villas Bôas no momento de fazer sua biografia, não há nenhuma concordância das Forcas Armadas em relação a pressão sobre o Supremo”. Trata-se do mesmo ministro, Fernando Azevedo, que sobrevoou manifestações antidemocráticas ao lado de Bolsonaro.
Na anarquia do Ministério da Educação e da CGU não há necessidade de generais. Os métodos ditatoriais causariam inveja a Costa e Silva. Perseguem professores e ressuscitaram o famigerado Decreto 477, de fevereiro de 1967. Conhecido como o AI-5 das universidades, ele estabelecia a expulsão de alunos e demissão sumária de professores e servidores das universidades por atividade política. O vergonhoso decreto acaba de ser clonado depois de 54 anos. A Rede de Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) encaminhou em fevereiro um ofício em que se pede a tomada de providências com objetivo de “prevenir e punir atos político-partidários nas instituições públicas federais de ensino”. Tirania já tratada e devidamente barrada pelo STF.
A farra da farda não tem limites. O levantamento feito por deputados do PSB no orçamento mostrou que as Forças Armadas adquiriram 80 mil unidades de cerveja e 700 mil quilos de picanha. O estudo aponta um superfaturamento superior a 60%. No cardápio do rancho foram incluídos ainda bacalhau, uísque 12 anos e conhaque para o alto comando. Esses dados engrossam a farra de R$ 1,8 bilhões para a ração da tropa, incluindo R$ 15 milhões em leite condensado, R$ 2,3 milhões em chicletes, R$ 32 milhões em pizza além de outros gastos questionáveis, exceto a justificável alfafa para os áulicos do tabajarismo. O leite condensado tem destino certo se o DIP for recriado: “enfiar no rabo da imprensa”.
O doce Bolsonaro odeia jornais, jornalistas e, acima de tudo, abomina a verdade. A predileção pela mentira é da índole. Em 1987, a revista “Veja” divulgou numa reportagem que Bolsonaro tinha planos de explodir quarteis para protestar contra os salários e desestabilizar o então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves. Bolsonaro foi expelido da tropa. Um documento oficial do Exército de 1988 concluiu que Bolsonaro e outro capitão “faltaram com a verdade e macularam a dignidade militar” e acrescentou: “o Exército tem, tradicionalmente, utilizado todos os meios legais para extirpar de suas fileiras aqueles que, deliberada e comprovadamente, desmerecem a honra militar. A verdade é um símbolo da honra militar”. Em troca de cargos e mordomias, os conceitos da honra militar e da verdade foram baixas relevantes nos últimos 2 anos.
Além da avidez por engordar os próprios soldos, os generais ainda tentam emplacar os filhos em cargos públicos. A caserna virou o exército da salvação familiar. A Casa Civil, do general Braga Neto, autorizou a nomeação da filha dele para uma gerência na ANS. O recuo só veio depois do pavio nepotista acender na imprensa. A filha de Pazuello emplacou em um novo cargo, agora na prefeitura do Rio de Janeiro. A filha de Eduardo Villas Bôas ganhou um posto na pasta de Damares.
O filho do vice Mourão teve 2 promoções em 6 meses no Banco do Brasil. Carlos Bolsonaro comentou irônico: “Nova promoção! Parabéns”. A corneta nepotista é do próprio comandante: “Se eu puder dar um filé para meu filho, eu dou”, confessou Bolsonaro. Com milhares de cadáveres empilhados em uma necrópole acéfala, os processos de genocídio e crimes contra a humanidade serão inevitáveis contra Bolsonaro e seu destacamento. As Forças Armadas não estarão isentas. Traídas pela incompetência e ambição de alguns mais atrasados, elas vão adquirindo um aspecto de obesidade, despreparo, anacronismo, inutilidade e avalista da barbárie. A generalização do caos irá macular a imagem das Forças Armadas irreversivelmente e a sarjeta da história as aguarda novamente. Só a desforra explica o aviltamento imposto por Bolsonaro aos milicos.