João Saldanha foi jornalista esportivo, militante político, botafoguense fervoroso, técnico de futebol e um grande contador de casos. Dizem que alguns eram pura ficção e outros, verdadeiros. A ideia aqui não é polemizar, acredite, mas lembrar uns dois ou três deles. E vou me ater ao futebol. Então vamos lá:
1) Copa do mundo de 1966, na Inglaterra: João foi convidado para participar de uma mesa redonda com jornalistas ingleses. Lá pelas tantas, questionaram a honestidade dos juízes (árbitros) sul-americanos. Sem titubear, Saldanha indagou:
– Se os ingleses são tão honestos assim, de onde vem a fama de excelência da Scotland Yard? Seguiu-se um silêncio britânico.
2) Copa do mundo da Alemanha, 1974. Outra mesa redonda, o assunto deveria ser futebol. Mas um repórter alemão resolveu cobrar de Saldanha o assassinato de indígenas brasileiros. Era o auge da ditadura, combatida com fervor pelo João. Mas o nacionalismo era muito forte também. Não permitiria que falasse do país, e tascou de volta:
– Em quase 500 anos de história, morreram menos índios do que vocês mataram judeus em cinco anos de guerra.
Silêncio no estúdio.
3) Copa do mundo da Itália, 1990. Outra mesa-redonda futebolística. Questionaram o veterano jornalista sobre as chances de o time italiano ser campeão, já que vinha de campanhas sofríveis e com muita indefinição no elenco. Sem muito lenga-lenga, João Saldanha cravou:
– Quero lembrar que além de toda a sua história, a Itália inventou a máfia.
Mudança brusca de assunto.
Lembro trechos pequenos da trajetória do João Sem Medo para entender a nova cidadania do capitão patriota que abandonou o próprio país. Vai morar no berço do fascismo e da máfia. Uma questão de identidade.
Um PS necessário. A Itália é muito mais que isso. E tem bastante crédito civilizatório.
PS 2: Saldanha morreu durante a Copa da Itália. PS 3: Narrei as histórias do Saldanha contando com a minha memória. Que pode falhar aqui ou ali.