O que o país assistiu aterrorizado no último domingo era uma pedra cantada entre peões bolsonaristas contratados pra baderna, mandantes, financiadores, e a turma que se iludiu com a chance de continuar usufruindo de benesses do poder.
É um ledo engano imaginar que a depredação dos poderes da República foi apenas o espasmo final de eleitores que não se conformaram com a derrota nas urnas. Quem praticou os atos terroristas chegou até a Praça dos Três Poderes com passe livre dado por autoridades dos mais diversões escalões, de todos os poderes, o que, inclusive, expôs à turba os agentes de segurança que tentaram cumprir seu dever.
Nada, simplesmente nada, funcionou como deveria funcionar. Com todo o receio que se tinha, a segurança na posse de Lula deu um show. Parecia que o temido pesadelo do que os golpistas bolsonaristas planejavam às claras nas redes sociais havia sido dissipado. O que depois de tantas ameaças foi uma boa surpresa.
No dia seguinte à posse, ignorando os apelos do novo governo e de ministros do STF, o então governador Ibaneis Rocha nomeou o delegado Anderson Torres como secretário de Segurança Pública de Brasília, responsável pela segurança da Esplanada dos Ministérios e dos prédios dos poderes da República. No mínimo uma temeridade.
Anderson Torres, com um passado complicado na Polícia Federal, como ministro da Justiça virou alvo da Justiça Eleitoral, entre outras coisas, por seus subordinados na Polícia Rodoviária Federal tentarem melar a votação em regiões do Nordeste francamente favoráveis a Lula.
O que se sucedeu é público e notório. Ele assumiu o cargo, demitiu quem assegurou uma posse tranquila de Lula, e se mandou para Orlando, onde teria até se encontrado com Bolsonaro. Anderson Torres e sua turma são a face mais visível dessa complacência com a conspiração, no mínimo por conveniência.
Mas há faces obscuras que ainda precisam ser esclarecidas. Pra se limitar ao que ocorreu após a eleição de Lula, a ida de agentes do GSI, então comandado pelo general Augusto Heleno, ao Centro Cultural do Banco do Brasil, onde estava sendo instalada a equipe de transição, pegou muito mal. Chegaram lá como donos do pedaço e foram rechaçados pela Polícia Federal.
A suspeita de que um grupo ligado ao general Heleno segue em ação tem dado dor de cabeça ao novo governo. Está sendo investigado, por exemplo, como eles se comportaram na invasão ao Palácio do Planalto. E até antes, na noite do dia 12 de dezembro, na tentativa de invasão da sede da Polícia Federal. Tudo isso está sendo apurado.
Mas tem mais coisa a esclarecer, além das derrubadas de torres de transmissão de energia e outros atentados. Também é preciso investigar, além dos mandantes e financiadores de todas as barbáries, quem fez vista grossa desde o governo anterior a essa conspiração à luz do dia e, também, na calada das noites. É aí que se tem que apurar o papel de Jair Bolsonaro e de seu clã. Sem uma apuração efetiva, não tem como tirá-los das cenas dos crimes terroristas em Brasília.
A conferir.