No final da década de 1990, uma professora da USP ousou criticar publicamente o que o então candidato Lula falava e defendia. Era uma cientista política com posições sempre mais próximas da esquerda. A repercussão foi quase nenhuma. Eu li, gostei e, por absoluta desorganização, não guardei o artigo; fiquei apenas com fragmentos na memória. Mais tarde, pedi socorro a uma amiga organizada e com conhecimento dos escaninhos das redes eletrônicas. Coitada, nada pôde fazer com as pouquíssimas informações que dispunha. Eu queria citar a professora e ser bem fiel à tese dela.
Agora, mesmo com essas falhas, vou tentar reproduzir o que tanto me chamou a atenção. O argumento principal do raciocínio da professora é que a classe média sempre relevou o que Lula falava. Tudo era relativizado e tinha uma razão: Lula representava a concretização da utopia do líder que emergiu da classe operária para conduzir o país num caminho solidário, humano, com respeito aos direitos individuais, a educação, a saúde e justiça social. O sucesso eleitoral passou a ser o objetivo de uma grande parcela da população. Começou então um processo de normalizar tudo que ele falava ou pensava.
Não convinha destacar que Lula, em algumas situações, parecia machista, homofóbico e reducionista politicamente, era capaz de elogiar a ditadura, e simplista em assuntos complexos. Hoje, pouco mudou. Lula continua falando bobagens e parte da elite pensante passa o pano limpando as besteiras. A sorte gosta de sorrir para o presidente. Só ele era – e foi – capaz de derrotar Bolsonaro. Muitos então aceitaram assinar um cheque em branco. Interessante e oportuno no momento é tentar lembrar a Lula que a vitória dele foi enorme porque o adversário era um incapaz, limitado e golpista. Ele recebeu preciosos apoios ao centro e enfrentou uma máquina do estado nunca vista antes. O adversário desqualificado tentou um golpe, furou o teto de gasto, fez graça com verba pública, usou a fé de crentes, o dinheiro do agronegócio e a estrutura da segurança pública.
Quem fez o L ainda é maioria, mas, em compensação, a oposição nesse terceiro mandato está muito mais agressiva e louca para cair matando, não convém ficar dando munição.
Os mais velhos aconselham a não abusar da sorte. Falar merda no cargo que ocupa traz graves e danosas consequências.