Jair Bolsonaro só é corajoso para a tribo que ainda o idolatra e acreditou na lorota de que ele seria um mito capaz de eliminar os maus costumes políticos e a escandalosa corrupção brasileira. Nessa sexta-feira (30), enquanto seus adoradores perdiam de vez o prumo, ele aproveitou sua última mordomia presidencial para fugir de crimes e pesadelos para a Flórida, paraíso de déspotas e corruptos de variados matizes das republiquetas de banana da América Latina. Vergonha.
Com todos seus desmandos, ele cometeu a última covardia ao nem tentar justificar a seus mais fiéis seguidores, acampados na porta de quartéis, porque estava caindo fora. Essa galera, na maioria enganada, segue sendo iludida por uma trupe que alimenta seus delírios e até ganha grana com isso. Como em outras pregações dos mais variados naipes, crenças e ideologias, o nicho da extrema direita também é rentável. Que o diga a turma que segue faturando na esteira do finado guru Olavo de Carvalho.
Antes de cair fora, Bolsonaro falou em uma live de quase uma hora em que não falou da fuga para os Estados Unidos e nem da morte do Pelé. De maneira patética, com pose de vítima, tentou escapar de possíveis acusações criminais pelos estragos da turba que estimulou a fazer vandalismo contra as instituições da República.
O mais maluco nesse desfecho de história é que Bolsonaro pegou um voo para seu suposto exílio sem sequer combinar o vácuo de poder com o vice-presidente Hamilton Mourão. Começou por ter viajado uma dia antes do previsto no Diário Oficial. Talvez uma ilusória última cartada que seus adeptos nas redes sociais apregoam que será dada pelo general general Augusto Heleno, o derradeiro golpista que segue à frente do Gabinete de Segurança Institucional.
É mais um fracassado delírio. Assim que o voo presidencial em direção a Orlando, onde Bolsonaro pode frequentar parques temáticos da Disney, saiu do espaço aéreo brasileiro, o vice Mourão assumiu o leme. Convocou cadeia nacional de rádio e televisão para na noite desse sábado (31) fazer o pronunciamento institucional que todos os presidentes deveriam fazer antes de repassarem o bastão para seus sucessores.
Mourão tá limpando a penúltima sujeira da desastrada gestão de Bolsonaro. Mas até agora se nega a assumir o vexame final e passar a faixa presidencial a Lula. A interlocutores Mourão afirma que sequer irá à cerimônia de posse, para o qual foi convidado, e deve passar o domingo em casa.
— Se o presidente Bolsonaro tivesse renunciado, aí a responsabilidade seria minha. Ou se ele tivesse, na live hoje de manhã, dito: “determinei ao vice-presidente que ocupe o meu lugar e passe a faixa”. Mas ele não fez nada disso — justificou Mourão.
Até pagar mico tem limite.
O país espera que, afora responsabilidades criminais, essa triste página da nossa história seja virada.
A conferir.