“Pas un pays sérieux”. Ainda ecoa a frase do então presidente francês Charles De Gaulle. Agora, outra vez vem de Paris uma nova sentença no mesmo tom. “O presidente Bolsonaro mentiu”, disse com todas as letras Emmanuel Macron.
O velho general acusava o então presidente esquerdista João Goulart de não fazer o que dizia. Agora o novo mandatário vem com algo igual para desqualificar o direitista Jair Bolsonaro. Entretanto, nossos presidentes diziam que foram eles, franceses, que não entenderam o que se falou aqui.
Guerra da Lagosta
Com esta repetição, parece que há um problema de tradução do idioma francês para o português, no Eliseu ou no Planalto. Se foi isto, o Itamaraty deveria apertar as exigências dos exames para intérprete oficial.
No caso do hoje explicado mal-entendido entre os presidentes Jango e o velho general, a ameaça era a Guerra da Lagosta. Foi uma crise muito grave, pois a França mandou uma esquadra para o Atlântico no rumo do Nordeste para atacar o Brasil e garantir os direitos dos pescadores franceses de capturarem lagostas na plataforma continental brasileira. Atendia à uma demanda dos restaurantes de Paris – certamente algo de relevância bélica num país gastronomista como a França.
Quando a armada francesa já estava quase chegando a Fernando de Noronha, recebeu a ordem de regressar. Seria o momento quando De Gaulle teria pronunciado a célebre frase, dando o incidente por encerrado. Desde então, até estes dias, reinou a paz entre Paris e Brasília.
Cadê a ponte com a Guiana?
Agora vem o presidente francês Macron ameaçar o Brasil com sanções econômicas e, sabe-se lá, com intervenção armada para apagar os incêndios na Amazônia. Esta ameaça militar não é tão inocente como pensam alguns incautos, pois o Brasil tem fronteira com a Guiana de 730,4 km, uma distância como de São Paulo a Florianópolis. 360 km divididos por rios, o restante a seco, o que pode ensejar, facilmente, uma invasão terrestre.
Mas há uma sombra de dúvida, não explicada: por que a ponte internacional, unindo as cidades de Oiapoque e Saint George, uma magnífica obra de engenharia, concluída há anos, até hoje não foi inaugurada e não dá trânsito?
O que se vê até o momento é o bate-boca dos presidentes. No Japão, no G20, Bolsonaro teria apresentado os planos do Brasil para preservação ambiental e contenção do fogo no mundo, integrado com os movimentos ambientalistas, com acordos com os países avançados e cumpridor de metas ambiciosas.
De uma hora para outra tudo desandou. 40 anos de estudos, ações, investimentos em tecnologia (satélites, SIVAM, institutos de pesquisas, Embrapa, a ação positiva como criação de reservas públicas e privadas, as RPPN) vieram por terra num abrir e fechar de olhos. Muito estranho, admita-se.
Fogo de palha
A verdade é que o presidente da República mexeu em casa de marimbondo sem proteção. Está levando ferroadas pelo corpo inteiro.
A imprensa brasileira recém está acordando para a realidade, desfazendo-se da maçaroca das tais mídias sociais, que encheram o espaço cibernético de fotografias falsificadas. Aos poucos os jornalistas vão percebendo que o fogo nas florestas é normal desde tempos imemoriais no mundo inteiro. Há poucos dias as chamas queimavam descontroladas em Portugal e na Califórnia.
No Brasil já houve queimadas maiores há menos de uma década. Atualmente, quase 40 por cento das labaredas estão no Cerrado ou na Marta Atlântica, no Sudeste.
Contudo, nada impede que os manifestantes das ruas das capitais europeias confundam tudo, como nos tempos em que a capital do Brasil era Buenos Aires. Tal qual, da mesma forma, o presidente brasileiro botou Noruega e Dinamarca no mesmo saco.
O que ninguém entende, por falta de informação, de estudo, de cultura técnica, é que o fogo faz parte da dinâmica das florestas. Basta olhar as imagens das queimadas: é capim seco sendo transformado em cinzas. Visto por outro lado, esse é o adubo natural para o crescimento da própria floresta.
Há, de fato, os tais incêndios criminosos, por ilegais, de madeireiros clandestinos, de grileiros formando pastagens, de indígenas formando suas roças (estas, de antiga tradição, hoje banidas pelo Código Florestal).
Vilão ambiental
A imagem do presidente na televisão, na sexta-feira, mostrou um homem assustado. Nunca imaginou que suas ideias sobre o que é o poder pudessem desandar dessa forma.
Será obrigado a recuar e, se for esperto, pedir desculpas. Assim mesmo, consolidou a imagem de vilão ambiental do Planeta Terra.
A diplomacia brasileira e os marqueteiros, que estão pensando o que soltar pelo mundo, terão de gastar muita saliva para trazer de volta a imagem bem-comportada que a esquerda derrotada deixara como herança. Foi fácil cobrar a conta. Não era uma herança maldita.