Golpes contra a democracia não costumam ser bem sucedidos sem apoio da sociedade, ou de setores significativos, como a classe média que foi às ruas em 1964 em suas marchas. Não é provável que Jair Bolsonaro leve às ruas, antes ou depois da eleição, mais do que um punhado de sua milícia troglodita, ainda que barulhenta e armada, para apoiar eventual medida de exceção contra as eleições ou seu resultado.
As chances de sucesso do golpe são inversamente proporcionais à quantidade de pessoas que a oposição – no caso, a campanha do ex-presidente Lula – conseguir mobilizar em torno da candidatura do petista país afora em sua defesa e da democracia. Quanto mais movimento Lula fizer, galvanizando apoio pelos estados em visitas, eventos e comícios, mais difícil ficará para Bolsonaro desferir seu golpe.
Pode ser até que a cúpula das Forças Armadas hoje seja bolsonarista. Mas não é louca, e não arriscará a instituição – e a pele – botando seus blindados nas ruas para combater uma grande massa defendendo a realização das eleições ou o voto que acabou de digitar na urna eletrônica se Bolsonaro tentar desrespeitá-lo.
Lula já percebeu isso há tempos, e no discurso repleto de recados em que lançou sua candidatura, no sábado passado, foi muito claro: “A partir de agora, se preparem, porque nós vamos começar a percorrer esse país. Nós queremos muita gente na rua, muitos aliados”.
Mais adiante, pontuou que não vai estimular confrontos e que quer fazer valer a vontade da maioria numa campanha com pitadas de emoção, no estilo “paz e amor”: “Ninguém pode ter medo de provocação! É proibido ter medo de provocação. É proibido ter medo de fake news. É proibido ter medo de provocações via zap, via Instagram. Nós vamos vencer essa disputa pela democracia distribuindo sorrisos, distribuindo carinho, distribuindo amor e criando harmonia”.
Ainda estamos na largada das campanhas, e certamente o presidente da República, percebendo a grande possibilidade de derrota, vai aprontar muito nesses cinco meses. Mas o antídoto para o seu golpe está nas ruas. E o conceito que usamos aqui vai bem além da Paulista e do Largo do Batata, e nem abrange somente a presença física das pessoas nas ruas.
A rua hoje em dia também está nas redes, nos eventos menores, na movimentação dos jovens que foram de inscrever para votar pela primeira vez e numa infinidade de formas de representação pelas quais a população pode fazer valer sua vontade e seu voto.