Lula livre vira o jogo nas eleições municipais? Esta era a pergunta objetiva que se ouvia nos arraias dos marqueteiros eleitorais no último domingo, dois dias depois da volta do ex-presidente ao campo de luta.
Com todas as reservas, os profissionais do ramo que até então davam a esquerda como alijada das disputas pelas prefeituras das grandes cidades, procuram novos dados para reavaliar seus diagnósticos. Somente um fato novo poderia mudar esse quadro, diziam. E agora?
Tudo o que se vir e ouvir daqui para frente deve ser debitado na conta da campanha eleitoral que se iniciou com a abertura das grades da carceragem da Policia Federal em Curitiba.
O ex-presidente está focado na campanha de 2020. Ainda antes de deixar a prisão advertiu seus partidários que o PT deverá ser cabeça de chapa em todos os municípios em que puder erguer uma candidatura.
Ou seja, nas capitais e grandes cidades, sem descuidar de pequenos municípios onde possui bases, especialmente naqueles que têm em seus territórios acampamentos de agricultores sem-terra ou, mais raro, de moradores sem-teto.
Com a cláusula de barreira, todos os partidos tentarão ter candidatos próprios. Para um partido em recomposição, como o PT, cada voto é precioso, mesmo que seja dado como perdido numa urna de uma comunidade remota. Na soma geral, vai contar.
Ou seja, o PT não deve abrir mão de sua posição de locomotiva da esquerda, levando a reboque seus demais aliados, tais como PSB, PDT, PCdoB, Psol e PCO. Sem descuidar-se de outros possíveis aliados, como Rede, que ainda têm um pé na esquerda pela via do ambientalismo antibolsonarista.
Com o chefe no timão, pilotando a nave petista, que estava fazendo água, a militância adquiriu novo ânimo e prepara-se para se lançar à caça aos votos perdidos, já com o olho em 2022. A campanha municipal é sobre temas locais, mas deve receber bons influxos da luta ideológica, que se projeta na eleição nacional. Falar no município com um olho em Brasília.
Lula saiu da cadeia cuspindo fogo. Bolsonaro respondeu no seu tom.
Tudo igual. Os dois estão reagrupando suas forças dispersas.
A esquerda desalentada pela falta de um comando para arregimentar as forças. A direita, que estava em fase de esfacelamento, envolvida em brigas internas e divisionismos, vê o inimigo à frente. Com Lula em campo, os dois lados se reúnem sob o comando de seus caudilhos.
No plano geral, passado o momento sensacional da libertação, a figura de Lula deve esmaecer na mídia, mergulhando nas redes sociais, que é o território preferido para combate por seus adversários. O ex-presidente tem um grande desafio no curto prazo, sempre com a espada de Dâmocles da terceira instância sobre seu pescoço. Tempos desafiadores.